ATAXIA:
SCA1 (Ataxia espinocerebelar tipo 1)
GENES RELACIONADOS:
ATXN1
TIPO DE MUTAÇÃO:
ATXN1 -> Mutação por expansão CAG
FONTE:
NAF SCA1 Fact Sheet e outras fontes indicadas
LOCALIZAÇÃO:
Gene localizado no cromossoma 6 (6p22.3)
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
15/07/2023 por Márcio Galvão
Ficha SCA1
1. SOBRE A SCA1
A ataxia espinocerebelar tipo 1 (Spinocerebellar Ataxia type 1 - SCA1) é um tipo específico de ataxia entre um grupo de doenças hereditárias do sistema nervoso central. Na SCA1, defeitos genéticos causam problemas em fibras nervosas específicas que transportam mensagens do e para o cérebro, resultando em degeneração do cerebelo (o centro de coordenação motora do cérebro). A SCA1 é uma doença progressiva, causada por mutação no gene ATXN1.
A ataxia espinocerebelar tipo 1 (SCA1) também é conhecida como Ataxia de Pierre Marie. As pesquisas em SCA1 começaram nos anos 40, conduzidas por dois neurologistas norte-americanos cujas famílias estavam com suspeita de SCA1. O êxito na pesquisa da SCA1 ocorreu em 1993 quando pesquisadores no Minesota e no Texas – EUA identificaram o gene responsável (ATXN1). A descoberta do gene cuja mutação causa a SCA1 foi somente o início para os pesquisadores, que ainda estão trabalhando para compreender suficientemente bem essa síndrome e encontrar um tratamento efetivo ou até a sua cura. Mas encontrar o gene foi muito importante, porque agora existe um teste genético capaz de diagnosticar com precisão essa espécie de ataxia.
Fonte: Texto adaptado do livro “Living With Ataxia”
2. SINTOMAS TÍPICOS
Os primeiros sintomas são normalmente a falta de coordenação manual e problemas com o equilíbrio ao caminhar. De fato, a palavra "ataxia" significa "falta de coordenação". Um dos sintomas que podem surgir é a dificuldade na escrita manual. Na medida em que a SCA1 progride ao longo de vários anos, dificuldades para engolir (disfagia) e fala arrastada (disartria atáxica) são comuns.
Em alguns casos, os indivíduos podem desenvolver sintomas adicionais como neuropatia periférica (perda de sensações e reflexos nos pés ou pernas), espasticidade, rigidez muscular, espasmos, problemas oculares (nistagmo, diplopia) e problemas de memória.
Fonte: GARD (Genetic and Rare Diseases Information Center)
Patologia e aspectos clínicos
Para uma relação mais técnica dos sintomas e aspectos clínicos usuais da SCA1 e informações de patologia (quais partes do sistema nervoso central são geralmente afetadas, e quais danos ou disfunções são verificados em nível celular), ver seções Clinical Features e Pathology respectivamente em Neuromuscular -> SCA1,
3. IDADE DOS SINTOMAS
O surgimento dos sintomas (onset) ocorre normalmente na dade adulta, entre os 30 e 40 anos em média, mas pode ocorrer em crianças e idosos também. Ou seja, os sintomas da SCA1 podem surgir em qualquer idade.
Fonte: GARD (Genetic and Rare Diseases Information Center)
Nota - O portal Neuromuscular incidica a faixa entre 4 e 74 anos de idade, com média em torno da quarta década de vida. Os tipos de sintomas experimentados e sua severidade podem variar de pessoa para pessoa, mesmo dentro de uma mesma família.
4. PODE OCORRER ANTECIPAÇÃO?
Sim. Quando o início dos sintomas ocorre antes dos 20 anos, outros sintomas adicionais podem se manifestar. Nos casos em que os sintomas surgem muito cedo (na infância, antes dos 13 anos), a doença tende a ser mais severa e progride muito mais rapidamente.
Nota - quanto maior o número de repetições CAG (ver 5. Herança), mais cedo é o aparecimento dos sintomas (onset), e maior é a severidade da doença. Não foi detectada correlação estatística entre a quantidade de repetições e a velocidade de progressão da SCA1.
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Pode ocorrer uma antecipação de 10 anos de uma geração para a próxima.
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A probabilidade de antecipação é maior com transmissão paternal do gene mutante.
Fonte: Neuromuscular -> SCA1
5. HERANÇA
A SCA1 é uma doença autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar o gene e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com SCA1 tem uma probabilidade de 50% de herdar o gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação).
Observar que "herdar o gene alterado e ser portador da mutação genética" não é a mesma coisa que "vai desenvolver a doença". É possível que uma pessoa herde uma variante patogênica de um gene e não desenvolva a doença (não apresente sintomas), pois pode herdar uma mutação que tenha baixa penetrância, mas em geral, acima de uma certa faixa que é considerada patológica (alta penetrância), os filhos que herdam um gene dominante vão desenvolver a doença, que em certos casos poderá apresentar sintomas mais cedo e ser mais severa do que nos pais, progredindo mais rapidamente (ver 4. Antecipação).
Faixas de expansão CAG para a SCA1
Cada pessoa tem duas cópias do gene ATXN1, uma herdada da mãe, e outra do pai. Um alelo pode ter por exemplo 14 repetições CAG, o que é normal e não provoca doença, enquanto o outro alelo (a outra cópia do mesmo gene) pode ter por exemplo, 72 repetições - e neste caso a pessoa vai desenvolver a doença mais cedo ou mais tarde.
Os limites de repetições CAG para dignóstico genético da SCA1 são indicados abaixo:
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Faixa Normal (não desenvolve a doença): De 6 até 34 repetições
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Faixa Intermediária: 35 até 40 repetições
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Faixa que causa a doença: De 41 até 83 repetições.
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Penetrância completa (100% dos casos): > 45 repetições
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Fonte: Neuromuscular -> SCA1
Nota - "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai). "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas).

6. PREVALÊNCIA
A prevalência da SCA1 é estimada em +- 1-2 casos em 100,000 pessoas, varia bastante em função do local (país), etnia e outros fatores. Como uma referência, a estimativa é que menos de 50,000 nos Estados Unidos tenham a doença.
Fonte: GARD (Genetic and Rare Diseases Information Center)
As seguintes informações sobre a prevalência da SCA1 estão disponíveis (ver Fonte):
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Cerca de 10% das SCAs no mundo
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Maior frequência na África do Sul (41%)
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Também comum no Japão, Índia, Itália e Austrália
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Não muito comum em Portugal, Brazil e no Japão Central
Fonte: Neuromuscular -> SCA1
7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
A ataxia SCA1 é uma das "doenças poliglutamínicas" (PolyQ). Ocorre quando o alelo (cópia) do gene ATXN1 herdado de um dos pais contém uma mutação com uma quantidade anormal de repetições de trinucleotídios CAG (Citosina, Adenina, Guanina), que codificam o aminoácido glutamina (Q) na proteína criada pelo gene. As proteínas mal formadas contendo estas repetições exageradas de glutaminas (poliglutaminas) tendem a se acumular nos neurônios, formando agregados.
A natureza tem mecanismos de proteção para fazer uma "faxina" nas células e quebrar proteínas "problemáticas" ou "desnecessárias" que sejam encontradas. Porém, por algum motivo, estes mecanismos não funcionam bem com estes agregados de poliglutamina, que são insolúveis pelos métodos naturais, e assim as proteínas defeituosas se tornam tóxicas e podem causar disfunções em processos celulares vitais como a autofagia, o transporte axonal e a proteostase, causando degeneração e morte dos neurônios do cerebelo (e de outras células do sistema nervoso), e em função desta perda neuronal surgem os sintomas da ataxia.
8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTE PARA ESTA ATAXIA
9. TRATAMENTOS
A ataxia SCA1 ainda não tem cura, mas é possível tratar seus sintomas.
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Fisioterapia neurofuncional, exercícios (sobretudo bicicleta ergométrica) e outras atividades físicas regulares (Yoga, Pilates, hidroginástica etc.) são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).
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Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença.
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Fisioterapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.).
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Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).
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Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.
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Suplementos (ex. Coenzima Q10) e vitaminas (D, B12 etc.) podem ser recomendados (consultar o médico para avaliar a necessidade - não consumir vitaminas e suplementos sem supervisão médica).
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Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade.
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Para a diplopia (visão dupla) causada por ataxia o uso de óculos com lentes de prisma pode ajudar. No caso de Nistagmo, há medicamentos que podem ajudar. Consultar o neurooftalmologista no caso de aparecimento destes sintomas.
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Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.).
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Para a disfagia, caso ocorra em estágios mais avançados da doença, também se recomenda consulta ao fonoaudiologista - há exercícios que podem ajudar na deglutição, reduzindo o risco de engasgos que possam causar pneumonia aspiratória.
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Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.
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Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.
Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente.
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.
10. REFERÊNCIAS (para saber mais sobre SCA1...)
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
Puneet Opal, MD, PhD and Tetsuo Ashizawa, MD.
Inglês
February 2, 2023.
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
U. Rüb et al
Inglês
06 February 2012
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
Tetsuo Ashizawa
Inglês
January 19, 2022
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
Marcondes Cavalcante França Júnior et al
Inglês
Aug 2018
Vídeos
Vídeo:
Autor/site:
NAF (National Ataxia Foundation) - Dr. James Orengo
Idioma:
Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.
Data:
May 18, 2023
Vídeo:
Autor/site:
NAF (National Ataxia Foundation) - Dr. Sharan Srinivasan
Idioma:
Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.
Data:
May 4th, 2023