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Fadiga nas ataxias



A fadiga é clinicamente definida como "a dificuldade no início ou sustentação de atividades mentais e físicas voluntárias". Trata-se de uma experiência subjetiva e debilitante em distúrbios neurodegenerativos como a doença de Parkinson (DP), a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e algumas ataxias espinocerebelares. A sensação de fadiga traz grande impacto na qualidade de vida e é um sintoma não motor bastante comum especialmente na ataxia SCA3 (DMJ), com prevalência elevada (aproximadamente entre 53% e 63.5%) [1].

 

Alguns fatores relacionados com a fadiga na SCA3 são:

- Tamanho da repetição CAG expandida no gene ATXN3.

- Sonolência excessiva durante o dia.

- Desordens de humor como ansiedade e depressão.

 

Apesar de alguns estudos já realizados, os fatores de risco da fadiga nas SCAs e seu impacto não foram bem investigados. Em um estudo recente [2] a fadiga foi avaliada em 418 participantes com SCA1, SCA2, SCA3 e SCA6 do Consórcio de Pesquisa Clínica para o Estudo da Ataxia Cerebelar usando a Escala de Gravidade da Fadiga FS-14.

 

Resumindo os resultados:

- A fadiga foi mais prevalente na SCA3 (52,6%), seguida pela SCA1 (36,7%), SCA6 (35,7%) e SCA2 (35,6%).

- Os pacientes com SCA3 apresentaram nível de fadiga significativamente maior que o grupo de controle (pacientes sem ataxia).

- Os casos de SCA com fadiga apresentaram ataxia mais grave e sintomas depressivos piores.

- Na SCA3, a fadiga mostrou correlação estatística com uma duração mais longa da doença e números maiores de repetições CAG patológicas.

- A fadiga, independente da ataxia e da depressão, contribuiu para uma pior qualidade de vida na SCA3 e SCA6 no início do estudo, e continuou afetando a qualidade de vida ao longo da doença em todos os tipos de SCA.

 

De forma resumida, há dois tipos de fadiga [3] que podem ocorrer nas ataxias e outras doenças neurológicas:

 

- A fadiga muscular ou periférica pode decorrer como consequência de distúrbios na transmissão da junção neuromuscular (comunicação entre neurônios e músculos). É caracterizada pela incapacidade de sustentar a força da contração muscular, É possível que a fadiga periférica percebida em pacientes com SCA3 seja causada por neuropatias periféricas, dado que sintomas como câimbras musculares, fraqueza, dormência, perda de massa muscular, dores neuropáticas e distúrbios do metabolismo músculo-esqueletal são sintomas comuns em pacientes com SCA3 [1].

 

- A fadiga relacionada ao sistema nervoso central também pode ser observada em doenças que afetam os sistemas nervosos central, periférico e autônomo (caso da SCA3). Suas principais características são a percepção aumentada do esforço e a resistência limitada para executar atividades físicas e mentais sustentadas (com maior duração no tempo). Lesões metabólicas e estruturais que perturbam o processo usual de ativação em vias interconectando os gânglios basais (disfunções dopaminérgicas), tálamo, sistema límbico e centros corticais superiores parecem estar implicadas no processo fisiopatológico da fadiga central [1].

 

Com relação ao tratamento, até agora não foi relatado nenhum tratamento específico para fadiga em pacientes com ataxia SCA3. No entanto, existe um tratamento padronizado para fadiga em pacientes com Doença de Parkinson que inclui um regime medicamentoso equilibrado direcionado ao distúrbio de movimento (por exemplo, agentes dopaminérgicos) e depressão (por exemplo, psicoestimulantes e antidepressivos), combinado com um programa de reabilitação (por exemplo, terapia cognitivo-comportamental e exercícios graduais). Além disso, pesquisas demonstraram que o gerenciamento farmacológico (modafinil) e não farmacológico (exercícios respiratórios e a neuromodulação não invasiva (estimulação magnética transcraniana repetitiva) podem ser opções de tratamento possíveis para fadiga em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica. Esses relatórios indicam que a combinação adequada de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos poderia ser uma opção promissora para aliviar a fadiga e a gravidade da ataxia em pacientes com SCA3.

 

É recomendável que pacientes com SCA3 façam pausas em suas atividades para repousar quando sentirem necessidade ("soninho da beleza") e planejem bem o seu dia e atividades diárias. Também é muito importante procurar ter uma boa qualidade de sono noturno. Caso o paciente tenha outros sintomas que atrapalhem o sono (síndrome das pernas inquietas, ansiedade etc.) deve procurar orientação médica pois há medicamentos que podem ajudar. O óleo de canabidiol (CBD) por exemplo pode ser prescrito pelo médico para reduzir ansiedade e ajudar a dormir melhor.

 

Também é importante que pacientes de ataxias com fadiga mantenham uma boa alimentação (nutritiva). Alguns suplementos alimentares (como a Coenzima Q10) podem ajudar no ganho de energia, mas é importante que o consumo de qualquer suplemento seja supervisionado pelo neurologista (para acertar a dosagem e pelo fato de que alguns deles podem interferir com outros medicamentos). Finalmente, fisioterapia neurofuncional e exercícios físicos supervisionados são muito importantes (tanto pelo aspecto físico quanto mental), e embora nem sempre seja fácil, é importante tentar evitar o estresse, que agrava os sintomas da ataxia. 

 

Referências

1. Ataxic Severity Is Positively Correlated With Fatigue in Spinocerebellar Ataxia Type 3 Patients

2. Fatigue Impacts Quality of Life in People with Spinocerebellar Ataxias

3. Fatigue in neurological disorders

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