Ficha DRPLA
ATAXIA:
DRPLA (Ataxia Dentato-Rubro-Palido-Luisiana)
GENES RELACIONADOS:
ATN1
TIPO DE MUTAÇÃO:
ATN1 -> Mutação por expansão CAG
FONTE:
NIH GeneReviews e outras fontes indicadas
LOCALIZAÇÃO:
Gene localizado no cromossoma 12 (12p13.31)
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
17/04/2023 por Márcio Galvão
1. SOBRE A DRPLA
A DRPLA é uma enfermidade rara cuja denominação provém das partes do cérebro mais afetadas pela enfermidade. O gene responsável pela DRPLA é o ATN1, localizado no cromossoma 12, e foi identificado por uma equipe de pesquisadores no Japão, em 1994.
Fonte: abahe.org.br
2. SINTOMAS TÍPICOS
A DRPLA pode causar, dentre outros sintomas:
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Ataxia cerebelar progressiva (falta de coordenação, problemas de equilíbrio, disartria, tremores nos braços e mãos)
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Rigidez
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Movimentos involuntários (coréia)
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Problemas cognitivos, incluindo demência.
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Dificuldades de priocepção.
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Nistagmo.
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A epilepsia (convulsões) pode estar presente particularmente nos casos com início dos sintomas na infância ou na adolescência.
Sinais e sintomas específicos da DRPLA têm relação com o número de repetições CAG no alelo herdado com mutação, e assim podem diferir de pessoa para pessoa, mesmo em uma mesma família, e há indicações na literatura de que os sintomas são diferentes em crianças e em adultos, ou seja, variam em função da idade em que se manifestam. Por exemplo, as convulsões (epilepsia) e dificuldades intelectuais são citadas como sintomas da DRPLA em crianças e jovens (abaixo dos 20 anos), enquanto a demência pode ocorrer (não necessariamente vai ocorrer) em adultos (mais de 20 anos).
Fontes:
GARD (https://rarediseases.info.nih.gov/diseases/5643/dentatorubral-pallidoluysian-atrophy)
GeneReviews (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1491/)
3. A IDADE DOS SINTOMAS
Os sintomas da DRPLA podem surgir (onset) desde meses de idade até 72 anos, com a idade média de surgimento por volta de 31 anos.
Fonte: GeneReviews
O portal Neuromuscular informa a faixa de início dos sintomas de 1 até 67 anos, com média aos 31 anos de idade.
Fonte: Neuromuscular -> DRPLA
4. PODE OCORRER ANTECIPAÇÃO?
Sim.
Na transmissão dos alelos do gene ATN1 de uma geração para a outra, o número de repetições CAG pode aumentar e os sintomas da doença podem surgir mais cedo na próxima geração. Ver Informações Adicionais.
5. HERANÇA
A DRPLA é uma doença autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar o gene e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com DRPLA tem uma probabilidade de 50% de herdar o gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação).
Observar que "herdar o gene alterado e ser portador da mutação genética" não é a mesma coisa que "vai desenvolver a doença". É possível que uma pessoa herde uma variante patogênica de um gene e não desenvolva a doença (não apresente sintomas), pois pode herdar uma mutação em uma faixa intermediária que tenha baixa penetrância, mas em geral, acima de uma certa faixa que é considerada patológica (alta penetrância), os filhos que herdam um gene dominante vão desenvolver a doença, que em certos casos poderá apresentar sintomas mais cedo e ser mais severa do que nos pais, progredindo mais rapidamente (ver 4. Antecipação).
Faixas de expansão CAG para a DRPLA
Cada pessoa tem duas cópias do gene ATN1, uma herdada da mãe, e outra do pai. Um alelo pode ter por exemplo 8 repetições CAG, o que é normal e não provoca doença, enquanto o outro alelo (a outra cópia do mesmo gene) pode ter por exemplo, 52 repetições - e neste caso a pessoa vai desenvolver a doença mais cedo ou mais tarde. Os limites de repetições CAG para dignóstico genético da DRPLA são indicados abaixo:
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Alelos normais: Entre 6 e 35 repetições CAG
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Alelos "mutantes normais": Há uma faixa de repetições CAG que em geral não produz sintomas, mas os alelos são instáveis e podem se expandir na transmissão para uma próxima geração, embora este seja um evento muito raro.
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Alelos mutantes com penetrância total: Igual ou superior a 48 repetições CAG. O maior número de repetições reportado até então é 93.
Fonte: GeneReviews
O portal Neuromuscular apresenta faixas diferentes para a DRPLA:
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Alelos normais: Menos que 26 repetições CAG
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Alelos "mutantes normais": De 37 até 48 repetições CAG
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Alelos mutantes com penetrância total: Acima de 49 repetições CAG.
A transmissão paternal tem maior chance de aumentar o número de repetições CAG.
Nota: Há uma outra doença (Haw River syndrome) estudada em uma família afro-americana que é causada pela mesma expansão CAG, no mesmo gene ATN1, mas tem manifestações clínicas diferentes da DRPLA. A Doença de Huntington também tem sintomas parecidos com a DRPLA, mas o diagnóstico diferencial pode ser feito pela presença da ataxia, que existe na DRPLA e não na DH (ou por teste genético que confirme a expansão CAG patológica no gene ATN1).
Nota: "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai). "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas.

6. PREVALÊNCIA
A DRPLA é extremamente rara fora do Japão e outras populações asiáticas, embora já existam casos comprovados por testes moleculares na Europa (por exemplo, Portugal), na América do Norte e na América do Sul.
Fonte: GeneReviews
Nota: O site CureDRPLA tem um mapa que mostra que há 35 países diferentes onde há pelo menos um caso de DRPLA documentado.
7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
A ataxia DRPLA é uma das "doenças poliglutamínicas" (PolyQ). Ocorre quando o alelo (cópia) do gene ATN1 herdado de um dos pais contém uma mutação com uma quantidade anormal de repetições de trinucleotídios CAG (Citosina, Adenina, Guanina), que codificam o aminoácido glutamina (Q) na proteína criada pelo gene. As proteínas mal formadas contendo estas repetições exageradas de glutaminas (poliglutaminas) tendem a se acumular nos neurônios, formando agregados.
A natureza tem mecanismos de proteção para fazer uma "faxina" nas células e quebrar proteínas "problemáticas" ou "desnecessárias" que sejam encontradas. Porém, por algum motivo, estes mecanismos não funcionam bem com estes agregados de poliglutamina, que são insolúveis pelos métodos naturais, e assim as proteínas defeituosas se tornam tóxicas e podem causar degeneração e morte dos neurônios do cerebelo (e de outras células do sistema nervoso), e em função desta perda neuronal surgem os sintomas da ataxia.
8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA ESTA ATAXIAS
Está em fase de ensaios clínicos o medicamento DYST203 (Dystrogene), visando aprovação da FDA.
Ver Pipeline de Tratamentos da NAF para a DRPLA
Nota: Há (abril 2023) um Estudo de História Natural para a DRPLA. Este estudo visa estudar a doença em pacientes infantis e adultos em diferentes países, para facilitar a identificação de biomarcadores (clínicos, genéticos, de imagem etc.) que possam ajudar na monitoração da progressão da doença ou em seu diagnóstico. As informações do estudo também poderão ajudar em ensaios clínicos de medicamentos, fornecendo dados adicionais.
9. TRATAMENTOS
A ataxia DRPLA ainda não tem cura, mas é possível tratar seus sintomas. Por exemplo, a epilepsia pode ser manejada com medicações anti-convulsivas. Manifestações psiquiátricas podem ser amenizadas com medicações psicotrópicas, para os sintomas típicos de ataxia há também remédios que podem ajudar. A fisioterapia é recomendada, como em outros tipos de ataxia, inclusive a fisioterapia ocupacional para orientar adaptações no ambiente (casa) do paciente para sua maior segurança e autonomia.
Onde saber mais
Mais informações sobre a DRPLA podem ser encontradas no Portal CureDPRL. Há inclusive um cadastro (registry) de pacientes específico para esta condição.
Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente.
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.
10. REFERÊNCIAS (para saber mais sobre DRPLA...)
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
GARD - Genetic and Rare Diseases Information Center
Inglês
Last Updated: February 2023
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
OMIN (Online Mendelian Inheritance in Man)
Inglês
Jun 4, 2022
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
Liana Veneziano, PhD and Marina Frontali, MD
Inglês
Last Update: June 9, 2016.