ATAXIA:
SCA8 (Ataxia espinocerebelar tipo 8)
GENES RELACIONADOS:
ATXN8, ATXN8OS
TIPO DE MUTAÇÃO:
ATXN8, ATXN8OS -> Mutação por expansões CTG e CAG
FONTE:
NAF SCA8 Fact Sheet e outras fontes indicadas
LOCALIZAÇÃO:
ATXN8 no cromossoma 13 (13q21)
ATXN8OS no cromossoma 13 (13q21.33
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
15/07/2023 por Márcio Galvão
Ficha SCA8
1. SOBRE A SCA8
A ataxia espinocerebelar tipo 8 (Spinocerebellar Ataxia type 8 - SCA8) é um dos tipos de ataxias dentro de um grupo de doenças hereditárias do sistema nervoso central. Assim como várias outras ataxias hereditárias, a SCA8 é o resultado de defeitos (mutações) genéticas que levam ao comprometimento de fibras nervosas específicas que carregam mensagens do e para o cérebro, resultando em degeneração do cerebelo (o centro de coordenação do cérebro).
A SCA8 é uma doença progressiva, causada por mutação nos genes ATXN8 e ATXN8OS. Resumidamente, uma mutação causa a existência de repetições anormais de nucleotídeos CTG e CAG dentro dos genes. Ver 7. Informações Adicionais.
2. SINTOMAS TÍPICOS
A SCA8 apresenta inicialmente problemas de equilíbrio e coordenação (Ataxia). Pode também ocorrer espasticidade muscular, lentidão na fala (disartria) e redução no sentido de vibração. Alguns indivíduos podem apresentar nistagmo e outros problemas nos movimentos oculares. Na medida em que a doença progride, durante vários anos, dificuldades para engolir (disfagia) e outros sintomas podem ser experimentados (menor frequência). Também pode ocorrer neuropatia sensorial e problemas cognitivos (por exemplo, disfunção executiva e outros aspectos da Síndrome Cognitivo-Afetiva Cerebelar). A progressão da SCA8 é lenta, ocorrendo em geral durante décadas, sem ser afetada pela idade do surgimento dos sintomas. A expectativa de vida não é afetada.
Fontes:
GeneReviews - Spinocerebellar Ataxia Type 8
Patologia e aspectos clínicos
Para uma relação mais técnica dos sintomas e aspectos clínicos usuais da SCA8 e informações de patologia (quais partes do sistema nervoso central são geralmente afetadas, e quais danos ou disfunções são verificados em nível celular), ver seções Clinical Features e Pathology respectivamente em Neuromuscular -> SCA8
3. A IDADE DOS SINTOMAS
Apesar do início dos sintomas ser tipicamente na idade adulta (a partir dos 18 anos), a idade de surgimento dos sintomas (onset) pode variar de um até mais de 65 anos de idade.
4. PODE OCORRER ANTECIPAÇÃO?
No caso de transmissão materna, há maior probabilidade do número de repetições (CTG·CAG)n aumentar.
Na transmissão paternal, ocorre o inverso, e a quantidade de repetições (CTG·CAG)n tende a se contrair.
5. HERANÇA
A SCA8 é uma doença autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar o gene com a mutação. Um filho de uma pessoa com SCA8 tem uma probabilidade de 50% de herdar o gene alterado. Porém, a penetrância da SCA8 é baixa. Isto significa que nem todas as pessoas que herdarem os genes mutantes vão desenvolver a doença. Há casos em que um indivíduo ccom SCA8 é o único membro da família a desenvolver sintomas, mesmo que outras pessoas na família também tenham herdado os genes com mutação.
Dominante, mas pode parecer recessiva ou mesmo esporádica
A SCA8 é geneticamente mais complexa dos que as outras SCAs em dois sentidos. Primeiro, a doença envolve mutações em dois genes diferentes - os genes ATXN8 e ATXN8OS - com expansões de repetições nos nucleotídeos CTG e CAG.
Além disso, a SCA8 tem baixa penetrância. Embora seja uma ataxia dominante (basta herdar os genes com mutação de um dos pais para que a pessoa se torne um portador da mutação), em muitos casos as pessoas de uma geração com o gene mutante não desenvolvem a SCA8, que entretanto talvez possa se manifestar na próxima geração, e assim a SCA8 pode parecer uma ataxia recessiva, neste sentido de que pode "pular gerações" (se manifestar em uma geração sem que tenha aparecido em uma ou mais gerações anteriores, que tinham apenas portadores da doença), o que não é típico das demais ataxias dominantes.
Em função da baixa penetrância, podem inclusive surgir casos de SCA8 em uma pessoa sem que exista histórico familiar (outros parentes afetados, da mesma geração ou de gerações anteriores. Neste sentido, a SCA8 pode ser confundida com uma ataxia esporádica, enquanto ainda se busca um diagnóstico. Isso é importante pois em função de suas características o médico não deve descartar a possibilidade de SCA8 apenas pelo fato do paciente não ter histórico familiar, ou de nenhum dos pais ter apresentado sintomas da doença.
Faixas de expansão CTG e CAG para a SCA8
De forma bastante resumida, temos que:
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Pessoas com menos de 50 repetições C-T-G/C-A-G nos genes da SCA8 tendem a não desenvolver a doença.
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Pessoas com aproximadamente 80 até 1300 ou mais repetições C-T-G/C-A-G estão em maior risco de desenvolver os sintomas da SCA8 (mas podem permanecer como portadores assintomáticos).
O portal Neuromuscular indica faixas ligeiramente diferentes:
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Normal (não desenvolve a doença): De 15 até 50 repetições (CTA·TAG)n(CTG·CAG)n
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Expandida: Normalmente de 100 até 155 repetições (faixa de 52 até 1455 repetições).
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Há portadores assintomáticos (carriers) da SCA8 de 52 até 1,455 repetições, ou seja, diferentemente de outras ataxias dominantes causadas por expansão de trinucleotídeos,
Fonte: Neuromuscular -> SCA8
Já a fonte GeneReviews apresenta as seguintes faixas:
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Normal: De 15 até 50 repetições (CTA·TAG)n(CTG·CAG)n
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Penetrância mais elevada (maior risco): Pode ocorrer de 54 até 250 repetições (CTA·TAG)n(CTG·CAG)n. Entretanto, há casos de indivíduos com repetições variando de 71 até mais de 1300 repetições que desenvolveram a doença, enquanto outros não desenvolveram a doença.
Nota! A expansão (CTG·CAG)n é altamente instável e quase sempre muda de tamanho durante a transmissão. A expansão tem a tendência de aumentar durante a transmissão materna, e de se contrair (diminuir) durante a transmissão paterna.
Fonte: GeneReviews Spinocerebellar Ataxia Type 8
Resumindo, na SCA8 mesmo em quem é detectada por exame genético uma quantidade de repetições muito grande não é certo que os sintomas da doença vão se manifestar - há apenas um maior risco. A pessoa pode permanecer como um portador assintomático. Porém, a pessoa pode transmitir os genes para gerações futuras, e em alguma destas transmissões o gene poderá causar a doença, em função de sua instabilidade. Esta característica pode dificultar o diagnóstico.
Nota: "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai). "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas.

6. PREVALÊNCIA
A SCA8 é uma forma de ataxia relativamente rara. Estima-se que sua ocorrência seja menor que 1/100,000.
A fonte GeneReviews cita que a SCA8 pode representar entre 2% e 5% dos casos de SCAs.
Fonte: GeneReviews Spinocerebellar Ataxia Type 8
As seguintes informações sobre a prevalência da SCA8 também estão disponíveis (ver Fonte):
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Representa de 3% a 4% dos casos de ataxias espinocerebelares
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Comum em: Finlândia
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Incomum em: Índia, México e Japão
Fonte: Neuromuscular -> SCA8
7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
A ataxia SCA8 é mais complexa pois envolve dois genes e dois tipos de expansão (repetições excessivas) de trinucleotídeos, no caso, as expansões CTG e CAG.
Informações para ajudar no diagnóstico diferencial da SCA8 (em relação aos outros tipos de ataxias espinocerebelares) podem ser encontradas na seção Differential Diagnosis da fonte GeneReviews:
8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA ESTA ATAXIA
9. TRATAMENTOS
A ataxia SCA8 ainda não tem cura, mas é possível tratar seus sintomas.
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Fisioterapia neurofuncional, exercícios (sobretudo bicicleta ergométrica) e outras atividades físicas regulares (Yoga, Pilates, hidroginástica etc.) são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).
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Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença.
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Fisioterapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.).
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Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).
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Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.
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Suplementos e vitaminas podem ser recomendados (consultar o médico para avaliar a necessidade - não consumir vitaminas e suplementos sem supervisão médica).
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Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade.
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No caso de Nistagmo, há medicamentos que podem ajudar. Consultar o neurooftalmologista no caso de aparecimento deste sintoma.
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No caso de espasticidade, consultar o neurologista pois há medicamentos que podem ajudar (ex. Baclofeno).
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Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.).
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Para a disfagia, caso ocorra em estágios mais avançados da doença, também se recomenda consulta ao fonoaudiologista - há exercícios que podem ajudar na deglutição, reduzindo o risco de engasgos que possam causar pneumonia aspiratória.
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Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.
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Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.
Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente.
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.
10. REFERÊNCIAS (para saber mais sobre SCA8...)
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
GARD - Genetic and Rare Diseases Information Center
Inglês
Last Updated: February 2023
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
John Douglas Cleary, PhD, SH Subramony, MD, and Laura PW Ranum, PhD.
Inglês
Last Update: April 22, 2021.
Artigo:
Autor/site:
Idioma:
Data:
NEUROMUSCULAR DISEASE CENTER (Alan Pestronk, MD)
Inglês
Last Update: 4/11/2023
Vídeos
Vídeo:
Autor/site:
NAF (National Ataxia Foundation) - Dr. Hannah Shorrock
Idioma:
Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.
Data:
Aug 24, 2023
Vídeo:
Autor/site:
NAF (National Ataxia Foundation) - Dr. Odinachi Oguh on August 16th, 2023
Idioma:
Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.
Data:
August 16th, 2023