ATAXIA:
SCA10 (Ataxia espinocerebelar tipo 10)
GENES RELACIONADOS:
ATXN10
TIPO DE MUTAÇÃO:
ATXN10 -> Mutação por expansões ATTCT
FONTE:
NAF SCA10 Fact Sheet e outras fontes indicadas
LOCALIZAÇÃO:
ATXN10 no cromossoma 22 (22q13.31)
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
15/07/2023 por Márcio Galvão
Ficha SCA10
1. SOBRE A SCA10
A SCA10 (spinocerebellar Ataxia type 10) é um tipo específico de ataxia entre um grupo de doenças hereditárias do sistema nervoso central. Na SCA10, defeitos genéticos causam problemas em fibras nervosas específicas que transportam mensagens do e para o cérebro, resultando em degeneração do cerebelo (o centro de coordenação motora do cérebro).
A SCA10 é um dos 50 tipos de ataxia espinocerebelares cujos genes já foram mapeados. É causada por mutações no gene ATXN10, localizado no cromossoma 22. Estas mutações causam repetições de pentanucleotídeos ATTCT expandidas. Ver 5. Herança.
2. SINTOMAS TÍPICOS
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, mesmo dentro de uma mesma família. Algumas pessoas podem desenvolver mais sintomas do que outras, e quando surgem, os sintomas podem ser leves, moderados ou severos. A relação seguinte é apenas uma referência.
Sintomas da SCA10
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Tipicamente, são notados primeiro problemas com equilíbrio e coordenação, típicos das ataxias cerebelares. A pessoa afetada tem dificuldades em caminhar, e esta dificuldade piora gradualmente, elevando o risco de quedas que passam a ocorrer com maior frequência. Com o passar do tempo, o uso de bengala, andador e eventualmente cadeira de rodas pode se tornar necessário.
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Após alguns anos do início dos sintomas, a fala pode se tornar arrastada (disartria), em função da dificuldade em coordenar simultaneamente os movimentos dos lábios, bochecha, língua, cordas vocais, diafragma etc. Também após alguns anos a coordenação das mãos e braços fica mais comprometida. Movimentos motores finos como escrever à mão e abotoar a roupa são afetados primeiro, e eventualmente, tarefas básicas da vida diária como se alimentar ou se vestir se tornam mais difíceis. Movimentos oculares anormais são comuns (nistagmo).
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Nos últimos estágios da doença, pode surgir dificuldade para engolir (disfagia), como resultado da incapacidade de controlar os músculos da boca e garganta durante a alimentação, e a pneumonia aspiratória pode se tornar um risco de vida importante.
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Na SCA10, também podem ocorrer convulsões (de 20% até 80% dos pacientes). As convulsões são notadas depois que os sintomas de ataxia se manifestam.
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Alguns indivíduos com SCA10 podem apresentar sintomas adicionais, como desordens de humor, diminuição ou perda de sensibilidade nos pés, pernas ou mãos (neuropatia periférica), disfunção cognitiva e sintomas piramidais como reflexos ativos exagerados (hiperreflexia), e/ou sinais de reflexo plantar de Babinski (quando se faz cócegas na sola do pé, o reflexo do dedão do pé é para cima, em vez de para baixo).
Exames de ressonância magnética podem indicar atrofia cerebelar.
Fontes:
SCA10 FACT SHEET NAF
GeneReviews
NEUROMUSCULAR -> SCA10
3. A IDADE DOS SINTOMAS
O surgimento dos sintomas (onset) da SCA10 ocorre normalmente entre os 10 e 50 anos de idade.
A progressão da SCA10 é lenta, o que significa que os sintomas se desenvolvem gradualmente ao longo de vários anos.
A expectativa de vida pode ser reduzida, em função da natureza progressiva da doença. Por exemplo, convulsões severas podem ser fatais se não forem adequadamente controladas.
Fonte: SCA10 FACT SHEET NAF
Notas
1. O portal GeneReviews indica a faixa entre 12 e 48 anos de idade para o início dos sintomas.
2. O portal NEUROMUSCULAR -> SCA10 indica a faixa entre 10 e 40 anos.
4. PODE OCORRER ANTECIPAÇÃO?
Sim.
A antecipação (surgimento mais cedo dos sintomas da SCA10) está usualmente associada com uma quantidade maior (expansão) de repetições de pentanucleotídeos ATTCT no gene ATXN10 em gerações sucessivas.
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Os alelos expandidos são em geral mais instáveis quando ocorre transmissão paterna, e são surpreendentemente estáveis quando a transmissão é materna.
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Algumas transmissões paternas podem provocar redução (contração) no número de repetições no alelo, em vez de aumento (expansão).
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A antecipação da SCA10 foi sugerida em algumas famílias brasileiras com SCA10, entretanto, é preciso mais estudos para confirmar esta observação [Teive et al 2004].
Fonte: GeneReviews
Nota - O portal NEUROMUSCULAR -> SCA10 reporta que podeo ocorrer antecipação de até 20 anos no surgimento de sintomas entre gerações, especialmente com transmissão paternal.
5. HERANÇA
A SCA10 é uma doença autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar o gene e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com SCA10 tem uma probabilidade de 50% de herdar o gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação).
Observar que "herdar o gene alterado e ser portador da mutação genética" não é a mesma coisa que "vai desenvolver a doença". É possível que uma pessoa herde uma variante patogênica de um gene e não desenvolva a doença (não apresente sintomas), pois pode herdar uma mutação em uma faixa intermediária que tenha baixa penetrância, mas em geral, acima de uma certa faixa que é considerada patológica (alta penetrância), os filhos que herdam um gene dominante vão desenvolver a doença, que em certos casos poderá apresentar sintomas mais cedo e ser mais severa do que nos pais, progredindo mais rapidamente (ver 4. Antecipação).
Faixas de expansão para a SCA10
Os limites de repetições ATTCT no gene ATXN10 para dignóstico genético da SCA10 são indicados abaixo de forma simplificada. Para informações mais detalhadas, ver GeneReviews:
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Faixa Normal (não desenvolve a doença): De 10 até 32 repetições ATTCT.
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Faixas que causa a doença:
* Baixa penetrância (são portadores da mutação, mas apenas alguns ficam doentes): De 33 até 850 repetições ATTCT.
* Alta penetrância (são portadores e também serão pacientes sintomáticos): De 800 até 4.500 repetições ATTCT.
Observar que há uma sobreposição (overlap) entre faixas de baixa e alta penetrância entre 800 e 850 repetições - são necessários mais estudos para conferir maior precisão a estas faixas.
Fonte: GeneReviews
Nota - A fonte NEUROMUSCULAR -> SCA10 reporta as seguintes faixas de expansão para a SCA10:
Faixa Normal: De 10 até 22 repetições.
Nota - "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai). "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas.

6. PREVALÊNCIA
A prevalência exata da SCA10 (= o quanto esta ataxia é comum) não é conhecida. A SCA10 já foi identificada em famílias no México, no Brasil e vários outros países Latino Americanos, bem como em populações asiáticas (incluindo Japão e China). No Brasil, estima-se que nos Estados do Paraná e Santa Catarina a SCA10 seja a segunda ataxia hereditária mais comum, depois da SCA3 (DMJ). Já em outros estados do Brasil a prevalência relativa da SCA10 é menor. Foi reportado um caso de um Nativo Norte Americano com SCA10 (um ancestral dos índios Sioux).
Fontes:
SCA10 FACT SHEET NAF
7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
O diagnóstico da SCA10 pode ser estabelecido pela identificação de repetições expandidas de pentanucleotídeos ATTCT no gene ATXN10 através de testes genéticos moleculares (exame de DNA).
Testes genéticos pré-natais - Uma vez que uma expansão de repetições ATTCT no gene ATXN10 tenha sido identificada em um membro da família por meio de testes genéticos moleculares, há uma probabilidade de 50% de transmissão do alelo mutante desta pessoa para seus filhos. Em função disso, pode-se considerar a possibilidade de realizar testes pré-natais na gravidez para verificar se o embrião está ou não com a mutação que pode causar a doença. Este é um tema eticamente delicado e que envolve decisões pessoais importantes. As pessoas em risco podem discutir com seus parceiros e familiares e buscar aconselhamento genético para tomar tais decisões de forma melhor informada.
8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA ESTA ATAXIA
9. TRATAMENTOS
A ataxia SCA10 ainda não tem cura, mas é possível tratar seus sintomas.
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O tratamento da SCA10 é focado principalmente no controle das convulsões, já que convulsões não controladas podem levar a um estado epilético fatal. Anticonvulsantes convencionais como Levetiracetam, Phenytoin, Carbamazepine e Ácido Valpróico oferecem controle razoável, apesar de consulsões ocasionais poderem ocorrer mesmo com estas medicações (Fonte: GeneReviews).
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Fisioterapia neurofuncional e outras atividades físicas regulares são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).
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Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença.
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Fisioterapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.).
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Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).
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Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.
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Suplementos (ex. Coenzima Q10) e vitaminas (D, B12 etc.) podem ser recomendados (consultar o médico para avaliar a necessidade - não consumir vitaminas e suplementos sem supervisão médica).
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Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade.
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No caso de Nistagmo, há medicamentos que podem ajudar. Consultar o neurooftalmologista no caso de aparecimento deste sintoma.
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Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.).
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Para a disfagia, caso ocorra em estágios mais avançados da doença, também se recomenda consulta ao fonoaudiologista - há exercícios que podem ajudar na deglutição, reduzindo o risco de engasgos que possam causar pneumonia aspiratória.
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Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.
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Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.
Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente.
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.
10. REFERÊNCIAS (para saber mais sobre SCA10...)