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Ataxia:

SCA3 (Ataxia Espinocerebelar Tipo 3)

GENES RELACIONADOS:

ATXN3

TIPO DE MUTAÇÃO:

ATXN3 -> Mutação por expansão CAG

LOCALIZAÇÃO:

Cromossoma 14 (14q32.12)

HERANÇA:

Autossômica Dominante

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:

03/01/2024 por Márcio Galvão

Ficha SCA3

1. SOBRE A SCA3

A ataxia espinocerebelar tipo 3 (SCA3), também conhecida como DMJ ou Doença de Machado-Joseph (ver Nota), é um tipo específico de ataxia entre um grupo de doenças hereditárias do sistema nervoso central. Na SCA3, defeitos genéticos causam problemas em fibras nervosas específicas que transportam mensagens do e para o cérebro, resultando em degeneração do cerebelo (o centro de coordenação motora do cérebro) e outras estruturas do sistema nervoso [1].

A SCA3 é um dos 50 tipos de ataxia espinocerebelares cujos genes já foram mapeados. É causada por mutações no gene ATXN3, que foi mapeado no cromossoma 14. Estas mutações causam repetições de nucleotídeos CAG expandidas. Isso faz com que a proteína codificada pelo gene seja malformada, contendo uma região com expansão de poliglutaminas CAG (PolyQ). Ver 7. Informações Adicionais

A SCA3 é uma doença neurodegenerativa multissistêmica [5] e pode afetar outras regiões do sistema nervoso além do cerebelo. Exames de imagem e estudos de neuropatologia revelaram atrofia da ponte, gânglios da base, mesencéfalo, medulla oblongata, múltiplos núcleos de nervos craniais, tálamo e também nos lobos frontal, parietal, temporal, occiptal e límbico. Por conta disso, os sintomas da SCA3 tendem a ser mais abrangentes do que em outros tipos de ataxias espinocerebelares (ver 2. Sintomas Típicos). 

Nota: A mutação genética que causa a SCA3 foi mapeada para o cromossomo 14q32.1 em 1993 por dois grupos distintos, O primeiro grupo estudava as linhagens de pacientes dos Açores (um território de Portugual) relacionados com a Doença de Machado Joseph (DMJ). O segundo grupo descobriu que o gene envolvido era diferente dos genes associados com as ataxias espinocerebelares SCA1 e SCA2 que já haviam sido previamente identificadas, e assim designou a doença como SCA3. Em 1994, foi comprovado geneticamente que a SCA3 e a MDj eram de fato a mesma doença, que passou a ser referida desde então como Ataxia Espinocerebelar Tipo 3 ou SCA3 (embora a designação DMJ ainda seja também utilizada) [8].

2. SINTOMAS TÍPICOS

Sintomas físicos

A palavra "Ataxia" significa literalmente "falta de coordenação". Tal como em outras formas de ataxias hereditárias, a SCA3 é caracterizada pela má coordenação motora. Tipicamente, os primeiros sintomas motores que se manifestam na SCA3 são o desequilíbrio ao andar, a visão dupla (diplopia) e nistagmo, seguidos pela falta de coordenação fina (manual) e a fala arrastada (disartria atáxica). Com a evolução da doença, também podem ocorrer dificuldades de deglutição (disfagia).

 

Em alguns indivíduos com SCA3 um exame neurooftalmológico pode detectar limitação ou lentidão anormal dos movimentos oculares, ou uma aparência de "olhar fixo” nos olhos. Alguns indivíduos podem apresentar olhos saltados (bulging eyes) pela retração das pálpebras superiores. Também pode ocorrer disfunções vestibulares (percebidas ao virar a cabeça), hiporreflexia ou arreflexia e outras neuropatias periféricas. Os sinais neurológicos tendem a progredir na medida em que a doença avança [4]. Alguns indivíduos podem apresentar sinais de Parkinsionismo como rigidez, distonia, tremores e lendidão dos movimentos (bradicinesia). bem como espasticidade e perda de força muscular.   

 

Dada a natureza multissitêmica da SCA3, em alguns casos também podem ocorrer manifestações não motoras listadas na Tabela 2 de [4], tais como:

  • Desordens de sono.

  • Síndrome das Pernas Inquietas (Restless Legs Syndrome). 

  • Fadiga (pode estar associada com depressão ou excesso de sonolência durante o dia). 

  • Dores crônicas (com maior frequência na região lombossacral, ou seja, na região lombar e quadril). As causas para estas dores podem variar, por exemplo, distonia ou neuropatia periférica. O padrão de marcha irregular típico dos pacientes com ataxia pode contribuir para estas dores. Os pacientes também podem ter câimbras associadas com neuropatias. 

  • Disfunções autônomas tais como constipação, bexiga neurogênica, dificuldades com o controle da temperatura corporal (termoregulação), disfunção sudomotora (sudorese, anidrose) e em alguns casos disautonomias cardiovasculares 

Os tipos de sintomas experimentados na ataxia SCA3 e sua severidade podem variar de pessoa para pessoa, mesmo dentro de uma mesma família.

SCA3 sintomas PT.jpg

Figura 1 - Créditos: Freepick

Sintomas afetivos e cognitivos

Também podem se manifestar mudanças de humor e dificuldades cognitivas. Já é sabido que o cerebelo não está envolvido apenas equilíbrio e coordenação motora, mas tem papel importante também na velocidade da memória e pensamento, na coordenação da execução de várias tarefas simultâneas (multitasking) e na coordenação de respostas emocionais. Pacientes com SCA3 podem apresentar sintomas da chamada Síndrome Cognitivo Afetiva do Cerebelo (SCAC), ou Síndrome de Schmahmann [6, 7], que é caracterizada por dificuldades em funções executivas, processamento de linguagem, cognição espacial e regulação do afeto. 

 

Assim, embora na SCA3 não exista um risco claro de demência (como pode haver em outras ataxias), é possível que o paciente tenha irritação, ansiedade, tendência para a depressão e outras dificuldades afetivas por conta da disfunção cerebelar causada pela ataxia. Existem tratamentos para estes sintomas de mudanças emocionais, logo é importante discutir com o neurologista caso estejam presentes pois é possível melhorar substancialmente a qualidade de vida através de terapias, medicação, reabilitação, aconselhamento psicológico e, sobretudo, compreensão, cuidado e apoio dos familiares. Idem se a pessoa detectar mudanças cognitivas (na memória ou velocidade de pensamento).  

Patologia e aspectos clínicos 

Para uma relação mais técnica dos sintomas e aspectos clínicos usuais da SCA3 e informações de patologia (quais partes do sistema nervoso central são geralmente afetadas, e quais danos ou disfunções são verificados em nível celular), ver seções Clinical Features e Pathology respectivamente no portal Neuromuscular [3].

3. IDADE DOS SINTOMAS

A idade de início dos sintomas pode variar amplamente na SCA3, mesmo entre pessoas afetadas de uma mesma família. A fonte [4] cita a faixa entre 20 e 50 anos, com média de 37 anos.  O GARD [2] indica que os sintomas podem surgir "desde a infância até a idade adulta".  A variação na idade do surgimento dos sintomas na SCA3 tem relação com o número de repetições CAG no gene ATXN3  - quanto maior o número de repetições mais cedo os sintomas tendem a se manifestar, e com maior severidade - ver Seção 4. Antecipação).  Em geral, os sintomas aparecem na idade adulta e progridem ao longo de várias décadas. 

4, ANTECIPAÇÃO

A antecipação (surgimento precoce dos sintomas) pode ocorrer na ataxia SCA3 e é mais provável quando a transmissão da mutação é paternal [3]. Quando o início dos sintomas ocorre mais cedo, em geral a doença tende a ser mais severa e progredir mais rapidamente. Na transmissão ao longo de gerações sucessivas, a mutação tende a aumentar, mas também pode ocorrer contração (passagem de uma mutação menor de uma geração para a próxima). 

Nota: De um modo geral, se a quantidade de repetições CAG na mutação genética é maior, os sintomas tendem a surgir mais cedo (Ver 5. Herança) e talvez com maior severidade. Mas isso é "em média", não é uma verdade absoluta para todos os pacientes individualmente. Existem outros fatores além da quantidade de repetições CAG que podem interferir na idade do aparecimento dos sintomas, na sua severidade e na velocidade de progressão da doença, como fatores genéticos (talvez a pessoa tenha outras características genéticas que a protejam de certos problemas) e fatores ambientais  (qualidade de vida, nível de estresse, alimentação etc.).

5. HERANÇA

A SCA3 é uma doença com herança autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar uma cópia (alelo) do gene com mutação e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com SCA3 tem uma probabilidade de 50% de herdar uma cópia do gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação, ou seja, a mãe ou o pai biológico).

​Observe que é possível que uma pessoa herde uma variante de um gene e não desenvolva a doença (não apresente sintomas), pois pode herdar uma mutação pequena em uma faixa intermediária que tenha baixa penetrância, Porém, quando a mutação herdada está em uma faixa considerada patológica (alta penetrância), a doença vai se manifestar em algum momento da vida.    

Faixas de expansão CAG para a SCA3

Cada pessoa tem duas cópias do gene ATXN3, uma herdada da mãe, e outra do pai. Um alelo pode ter por exemplo 14 repetições CAG, o que é normal e não provoca doença, enquanto o outro alelo (a outra cópia do mesmo gene) pode ter por exemplo, 72 repetições - e neste caso a pessoa vai desenvolver a doença mais cedo ou mais tarde. Os limites de repetições CAG para dignóstico genético da SCA3 são indicados abaixo [4]:
 

  • Faixa normal: Quando ambos os alelos herdados do gene ATXN3 têm entre 12 até 44 repetições de CAG. Ou seja, até 44 repetições CAG a pessoa *não* tem mutação (não é um portador) e nem vai desenvolver a SCA3.
  • Faixa intermediária: Quando pelo menos um dos alelos herados tem de 45 até 59 repetições a pessoa pode ou não desenvolver a doença (a penetrância é incompleta), mas será um portador da mutação. Ver Nota 1 em seguida.
  • Faixa patológica: Se herdar (do pai ou da mãe) um alelo do gene ATXN3 com 60 repetições CAG ou mais a pessoa será um portador da mutação e será também um paciente - a doença vai se manifestar com certeza mais cedo ou mais tarde (a penetrância da doença é de 100% neste caso). O número máximo de repetições CAG documentada até agora no gene ATXN3 foi de 87.

Notas:
1. É importante destacar que pessoas no range intermediário de repetições CAG (45 até 59) podem não desenvolver a doença elas próprias, mas ainda assim podem transmitir os genes com mutação para seus filhos, e nesta transmissão talvez o número de repetições aumente acima do limite (> 60 repetições). Nestes casos, a doença vai se manifestar no filho sem que o próprio pai (ou mãe) tenha apresentado sintomas (há estudos em andamento sobre isso), o que pode ser uma dificuldade para o diagnóstico (já que se trata de uma doença hereditária e é esperado que gerações passadas também tenham exibido sintomas).
 
2. Embora bastate raros, já foram identificados pacientes homozigotos para a SCA3, ou seja, indivíduos que herdaram os dois alelos do gene ATXN3 com mutação (um da mãe e outro do pai biológico), produzindo sintomas mais severos e com manifestação antecipada [8].  
3. Há pessoas que têm poucas repetições CAG (quase no limite inferior onde a SCA3 não se manifesta), mas ainda assim podem ter sintomas mais severos. Sobre isso, a Dra. Paula Maciel (pesquisadora) informou que muitos testes medem o nível de repetições CAG no sangue, mas partes diferentes do corpo podem ter repetições diferentes (maiores ou menores), inclusive no cérebro ("o tamanho da repetição expandida de CAG em linfócitos pode ser diferente do tamanho nas células das estruturas envolvidas que seriam os determinantes reais do desenvolvimento da doença". Assim, uma pessoa pode ter menos repetições detectadas no sangue, mas mais repetições CAG nos genes em células no cerebelo ou outras partes do cérebro mais diretamente relacionadas com as ataxias, e assim mesmo pessoas com poucas repetições de vez em quando podem ter doenças mais severas [9].

​​Nota: "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai).  "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas).

​Figura 2 crédito - A nota acima e a imagem abaixo foram reproduzidas do GARD [2].

6. PREVALÊNCIA

Não ha dados precisos sobre a prevalência da SCA3 na população geral, mas é provável que a SCA3 seja a ataxia hereditária dominante de maior prevalência em várias regiões do mundo (de 20% a 50% dos casos). A taxa varia entre populações, dependendo da localização geográfica e etnia [4]

Nota: As seguintes informações sobre a prevalência da SCA3 estão disponíveis no portal Neuromuscular [3]:

  • Ataxia espinocerebelar mais comum no mundo: De 20% a 50% dos casos de SCA

  • Comum em muitos países: 85% das SCA no Brasil

  • Incomum na Índia, México, Itália, África do Sul e Finlândia

7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS

A ataxia SCA3 é uma das "doenças poliglutamínicas" (PolyQ). Ocorre quando o alelo (cópia) do gene ATXN3 herdado de um dos pais contém uma mutação com uma quantidade anormal de repetições de trinucleotídios CAG (Citosina, Adenina, Guanina), que codificam o aminoácido glutamina (Q) na proteína criada pelo gene. ​Isso faz com que a proteína codificada pelo gene mutante tenha uma conformação anormal, com uma repetição excessiva de glutaminas. Esta proteína anormal tem a tendência de se acumular e formar agregados especialmente nos núcleos nas células nervosas (neurônios). 

 

A natureza tem mecanismos de proteção para fazer uma "faxina" nas células e quebrar proteínas "problemáticas" ou "desnecessárias" que sejam encontradas. Porém, por algum motivo, estes mecanismos não funcionam bem com estes agregados de poliglutamina, que são insolúveis pelos métodos naturais. Assim, as proteínas defeituosas se tornam tóxicas e podem causar disfunções em processos celulares vitais como a autofagia, a transcrição de DNA, o transporte axonal e a homeostase de proteínas, causando a degeneração e a morte dos neurônios do cerebelo (e de outras células do sistema nervoso). Em função desta perda neuronal surgem os sintomas da ataxia.

Notas adicionais sobre desordens PolyQ: (Adaptadas de "Pathogenesis of SCA3 and implications for other polyglutamine diseases". Hayley S. McLoughlin et al, 2020) [8].

1. Atualmente, são conhecidas nove desordens PolyQ, incluindo a Doença de Huntington (HD), a Atrofia Dentato-Rubro-Palido-Luisiana (DRPLA), a Atrofia Muscular Bulboespinhal (SBMA), e seis tipos diferentes de ataxias espinocerebelares (SCAs), incluindo a SCA1, SCA2, SCA3, SCA6, SCA7 e SCA17. Todas estas doenças decorrem de repetições CAG expandidas nas regiões codificantes de seus respectivos genes, e compartilham outras características comuns. Por exemplo, todas as doenças PolyQ têm herança autossômica dominante (com exceção da SBMA, que é relacionada ao X), afetam principalmente o SNC (Sistema Nervoso Central), embora nervos periféricos e músculos também possam ser afetados, e têm evolução progressiva ao longo de anos. Além disso, em todas as doenças PolyQ existe uma correlação inversa entre o tamanho da mutação (quantidade de repetições CAG) e a idade de início de surgimento (onset) dos sintomas e sua severidade, podendo ocorrer o fenômeno da antecipação como já mencionado. 

2. Nas doenças PolyQ as proteínas mal formadas com excesso de glutaminas (repetições CAG) tentem a se aglomerar formando agregados principalmente nos núcleos dos neurônios, embora também possam ocorrer agregados no citosol (citoplasma) e mesmo agregados distais em axônios. O significado destes aglomerados de proteínas no núcleo das células ainda não é totalmente claro, mas há uma hipótese de que inicialmente este processo seria benéfico (neuroprotetivo), mas com o tempo se torna tóxico (patogênico) para as células nervosas, causando o sequestro de proteínas essenciais para as funções celulares como fatores de transcrição, além de danos nas mitocôndrias, no sistema chaperone (conjunto de proteínas que auxiliam no correto dobramento de outras proteínas), e também no sistema UPS (Ubiquitina Proteassoma) que regula a degradação de proteínas indesejadas ou danificadas, além de prejudicar o processo de autofagia que é parte do mecanismo de "controle de qualidade" de proteínas em nível celular. O reparo de DNA danificado no núcleo das células também pode ser impactado. Todos estes problemas afetam o funcionamento normal dos neurônios, e podem causar a sua morte (perda neuronal). 

3. Além dos neurônios outros tipos de células como as células gliais (astrócitos, microglia e oligodendrócitos) podem desempenhar um papel importante na patogênese das ataxias espinocerebelares e outras doenças PolyQ. Por exemplo, já se sabe que células gliais (glia de Berman) desempenham um papel relevante no processo degenerativo que ocorre na ataxia SCA7, e as mudanças já observadas em células gliais em modelos animais na ataxia SCA1 e na Doença de Huntington bem pode ser uma característica comum em outras doenças PolyQ.

Diagnóstico - O diagnóstico da SCA3 pode ser feito com teste genético molecular (exame de DNA) para detectar "Expansões CAG anormais no gene ATXN3", sendo recomendado sobretudo se já houver alguém na família com diagnóstico fechado (histórico familiar positivo para SCA3). Antes da solicitação de testes genéticos, o neurologista tipicamente faz exames clínicos neurológicos para análise de sintomas, reflexos, anormalidades oculares, avaliação de histórico familiar etc. e é normal que solicite exames de imagem para verificar se há atrofia cerebelar e da ponte por exemplo.

Nota: Embora o diagnóstico por teste genético possa ser difícil, demorado e caro, ele é importante, pois permite um melhor aconselhamento genético para os familiares (risco de transmissão da mutação para futuras gerações na família), um melhor manejo da doença, que estará bem determinada, e também possibilita a participação do paciente em ensaios clínicos para medicamentos para ataxias específicas. 

8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA ESTA ATAXIA

Ver Pipeline de Tratamentos da NAF para a SCA3

Veja também o webinar da NAF "Research and Treatment Development for SCA3", Dr. Hayley McLoughlin [13]

Sobre as terapias genéticas ASO

Dentre  as terapias em desenvolvimento mais promissoras para a SCA1, SCA3, SCA7 e outros tipos de ataxias está a terapia genética ASO (Oligonucleotídeos Antisenso). Os ASO são pequenas moléculas que podem impedir a síntese, ou alterar a forma como as proteínas são sintetizadas a partir dos genes. Como ilustrado a seguir, o processo de síntese de proteínas ocorre em duas etapas. Primeiro, ocorre a transcrição, onde um gene codificador de proteína é convertido em uma molécula de instruções chamada de RNA mensageiro (mRNA). Em seguida, ocorre a tradução, quando o mRNA é convertido em proteína. Os ASO se ligam no mRNA e podem interferir no processo de duas formas diferentes. Por um lado, podem alterar a forma como a proteína será gerada (ou seja, há o potencial de criar versões modificadas "boas" das proteínas, em substituição às proteínas mal formadas que seriam codificadas por genes com mutação contendo excesso de repetições CAG). Por outro lado, os ASO também podem simplesmente silenciar o gene e impedir que a proteína seja sintetizada. Ambas as abordagens têm o potencial de corrigir ou mitigar os efeitos das mutações genéticas, oferecendo assim uma perspectiva promissora para o tratamento das ataxias espinocerebelares e outras doenças PolyQ como a Doença de Huntington. As terapias genéticas, incluindo os ASO, representam uma área de pesquisa inovadora e em evolução no campo da medicina molecular.

Figura 2 crédito - Snapshot: O que é um oligonucleotídeo antisenso (ASO/AON)? NAF SCASource. 

SCA7 como o ASO funciona.png

9. TRATAMENTOS

A ataxia SCA3 ainda não tem cura, mas é possível tratar sintomas visando melhor qualidade de vida e fornecer apoio contínuo ao paciente. É importante que os pacientes com SCA3 sejam acompanhados por um neurologista e uma equipe médica multidisciplinar e especializada, com a inclusão gradual de novos profissionais de saúde na medida em que seja necessário em função dos sintomas (geneticista, neuro oftalmologista, fisioterapeuta neurofuncional, fisioterapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, nutricionista etc.). 

​Seguem algumas recomendações gerais para o manejo de sintomas na SCA3:.

  • Fisioterapia neurofuncional, exercícios (sobretudo bicicleta ergométrica) e outras atividades físicas regulares (Yoga, Pilates, hidroginástica etc.) são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).

  • Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença. 

  • Fisioterapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.). 

  • Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).

  • Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.

  • Suplementos (ex. Coenzima Q10) e vitaminas (D, B12 etc.) podem ser recomendados (consultar o médico para avaliar a necessidade - não consumir vitaminas e suplementos sem supervisão médica).

  • Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade. 

  • Para a diplopia (visão dupla) causada por ataxia o uso de óculos com lentes de prisma pode ajudar. No caso de Nistagmo, há medicamentos que podem ajudar. Consultar o neurooftalmologista no caso de aparecimento destes sintomas.

  • Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.). 

  • Para a disfagia, caso ocorra em estágios mais avançados da doença, também se recomenda consulta ao fonoaudiologista - há exercícios que podem ajudar na deglutição, reduzindo o risco de engasgos que possam causar pneumonia aspiratória. 

  • No caso de espasticidade, consultar o neurologista para avaliar a medicação mais adequada (ex. Baclofeno). 

  • Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.

  • Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.

Nota! Alguns pacientes com ataxias cerebelares diversas relatam benefícios e melhoria de sintomas de ataxia após sessões de neuromodulação ou estimulação cerebelar não invasiva, por exemplo, a estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS), ou estimulação magnética transcraniana (TMS) com fisioterapeutas certificados. Observar que embora já esteja sendo comercializada esta terapia ainda não foi aprovada pela FDA nos Estados Unidos (ou pela ANVISA no Brasil) para tratamento de ataxias (ou seja, trata-se de tratamento experimental e sem garantias).

Veja informações sobre medicamentos.

Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.

10. REFERÊNCIAS 

Ref #1

Fonte:

NAF (National Ataxia Foundation)
Copyright
© National Ataxia Foundation

Idioma:

Inglês

Data:

NAF—01/2019

Ref #2

Fonte:

GARD - Genetic and Rare Diseases Information Center. 
Copyright © National Center for Advancing Translational Sciences - National Institutes of Health (NIH).

Idioma:

Inglês

Data:

Last Updated: January 2024

Ref #3

Fonte:

NEUROMUSCULAR  DISEASE CENTER   (Alan Pestronk, MD)
Washington University, St. Louis, MO - USA     

Idioma:

Inglês

Data:

Ref #4

Fonte:

Henry Paulson, MD, PhD and Vikram Shakkottai, MD, PhD. 
Copyright © GeneReviews. GeneReviews 
® is a registered trademark of the University of Washington, Seattle. 

Idioma:

Inglês

Data:

Last Update: June 4, 2020.

Ref #5

Fonte:

José Luiz Pedroso et al.  Mov Disord. 2013 Aug 28

Copyright © 2013 Movement Disorder Society. PubMed ® PMID: 23775899.

Idioma:

Inglês

Data:

2013 Aug. 28

Ref #6

Fonte:

Franziska Hoche, Xavier Guell, Mark G Vangel, Janet C Sherman, Jeremy D Schmahmann

Copyright © The Author (2017). Published by Oxford University Press. PubMed ® PMID: 29206893

Idioma:

Inglês

Data:

2018 Jan 1

Ref #7

Fonte:

Pedro Braga-Neto et al

PubMed ® PMID: 21975858

Idioma:

Inglês

Data:

2012 Jun 11

Ref #8

Fonte:

Hayley S. McLoughlin, Lauren R. Moore, Henry L. Paulson

ScienceDirect ® - Copyright © 2024 Elsevier B.V.

Idioma:

Inglês

Data:

Version of Record 30 October 2019

Ref #9

Fonte:

Patricia Maciel et al

Copyright © 1995 by The American Society of Human Genetics. All rights reserved.

Idioma:

Inglês

Data:

1995

Ref #10

Fonte:

OMIM ® - An Online Catalog of Human Genes and Genetic Disorders.
Copyright © Johns Hopkins University.

Idioma:

Inglês

Data:

Edit History: carol : 11/29/2023

Ref #11

Fonte:

ClinicalTrials.gov - ID NCT03487367
Sponsor - The Methodist Hospital Research Institute

Idioma:

Inglês

Data:

Study Completion (Estimated): 2023-12-31

Ref #12

Fonte:

Presented by: Dr. Jennifer Faber

YouTube - Copyright © National Ataxia Foundation (NAF)

Idioma:

Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para outros idiomas.

Data:

Feb 14, 2023

Ref #13

Fonte:

Presented by: Dr. Hayley McLoughlin

YouTube - Copyright © National Ataxia Foundation (NAF)

Idioma:

Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para outros idiomas.

Data:

Feb 19, 2023

Por favor, leia o Disclaimer.  Tradução para o idioma Inglês feita por Inteligência Artificial.

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