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Ataxia:

SCA5 (Ataxia Espinocerebelar Tipo 5)

GENES RELACIONADOS:

SPTBN2

TIPO DE MUTAÇÃO:

SPTBN2 -> Mutação pontual por deleção

LOCALIZAÇÃO:

Cromossoma 11 (11q13.2)

HERANÇA:

Autossômica Dominante

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:

05/01/2024 por Márcio Galvão

Ficha SCA5

1. SOBRE A SCA5

A Ataxia Espinocerebelar Tipo 5 (SCA5) é um tipo específico de ataxia dentro de um grupo de doenças hereditárias que afetam o sistema nervoso central. Na SCA5, defeitos genéticos causam problemas em fibras nervosas específicas que transportam mensagens para o cérebro e dele, resultando na degeneração do cerebelo (o centro de coordenação motora do cérebro) [1].

A SCA5 é um dos 50 tipos de ataxias espinocerebelares cujos genes já foram mapeados. É uma doença progressiva causada por diferentes tipos de mutações no gene SPTBN2. A mutação foi mapeada para o cromossomo 11 em 1994 (Ranum et al), e em 2006 foi descoberto o gene causador (Ikeda et al). O gene SPTBN2 codifica uma proteína citoesqueletal chamada beta-III spectrin, que juntamente com outras proteínas (alfa-spectrin, F-actin) formam o citoesqueleo que confere o formato e a resiliência mecânica para a membrana plasmática das células, o que é necessário para estabilizar e organizar outras proteínas que atuam em importantes processos celulares. A proteína beta=III spectrim é expressada em diferentes partes do cérebro, principalmente nas células de Purkinje do cerebelo. A mutação no gene SPTBN2 que expressa esta proteína afeta o funcionamento e desenvolvimento normal destes neurônios, o que por sua vez, causa os sintomas da ataxia SCA5. Os interessados em informações mais técnicas podem consultar [4], [5], [8] e [9].

A SCA5 também é conhecida como ataxia de Holmes, devido ao fato de o Dr. Gordon Holmes ter sido o primeiro a descrever a doença em 1907, ou ainda ataxia de Lincoln, pois a SCA5 foi diagnosticada em descendentes (décima primeira geração) dos avós paternos presidente norte-americano Abraham Lincoln [8].

 

Comparada com outras ataxias espinocerebelares como a SCA1, SCA2 e SCA3 a ataxia SCA5 progride mais lentamente e em geral não afeta a expectativa de vida do paciente [8],

2. SINTOMAS TÍPICOS

A SCA5 é considerada uma ataxia cerebelar "pura", o que significa que apenas o cerebelo (que coordena os nossos movimentos) é tipicamente afetado. Por conta disso, os sintomas geralmente se restringem a falta de coordenação das mãos, braços e pernas, dificuldade de equilíbrio ao caminhar,  problemas nos movimentos oculares (nistagmo) e disartria. Também podem ocorrer tremores (de intenção e em repouso) [5].

Os primeiros sintomas que surgem são em geral o desequilíbrio ao caminhar, dificuldade em subir escadas, e perda de equilíbrio ao ficar em um só pé (por exemplo, durante o banho).  A falta de coordenação motora nos braços e mãos também é comum na SCA5, mas em geral não é tão desabilitante quanto na marcha. Os indivíduos afetados podem perceber uma deterioração na escrita manual, dificuldades ao abotoar camisas e outras atividades que requerem destreza manual. A fala arrastada também é comum, mas tipicamente não é tão severa e os problemas na articulação das palavras em geral não são graves o suficiente para interferir na comunicação oral.  

Na medida em que a mente, a deglutição, a digestão, o controle urinário e a força física geralmente não são afetados como em geral ocorre com outras ataxias espinocerebelares, as pessoas com SCA5 normalmente continuam vivendo de forma independente [8]. Por exemplo, apesar de muitos pacientes com SCA5 eventualmente usarem algum auxílio para caminhar (como bengalas, ou andador), apenas raramente a doença chega ao ponto de trazer dependência de cadeira de rodas, como pode ocorrer em outras ataxias. Para mais informações sobre sintomas da SCA5 consultar [4, 5]

​Os tipos de sintomas experimentados na ataxia SCA5 e sua severidade podem variar de pessoa para pessoa, mesmo dentro de uma mesma família.

3. IDADE DOS SINTOMAS

O surgimento dos sintomas (onset) da SCA5 geralmente ocorre na terceira ou quarta década de vida, mas há registros de ocorrência dos 10 aos 68 anos de idade [8]. A fonte [6] indica a idade média de surgimento dos sintomas como 33 anos, com variação entre 6 e 68 anos.

Nota: Inicialmente, a SCA5 foi pensada como uma doença cujos sintomas se manifestavam apenas em adultos. Hoje já são conhecidas diversas mutações do gene SPTBN2 que podem causar manifestação dos sintomas na infância e na adolescência. Quando isso ocorre os sintomas tendem a ser mais severos, podendo incluir atraso no desenvolvimento e problemas cognitivos (o que sugere que outras partes do cérebro além do cerebelo podem estar sendo afetadas pela mutação). Até o momento, mais de 20 variantes patogênicas do gene SBTBN2 que podem causar a SCA5 já foram reportadas [8, 9].

4. ANTECIPAÇÃO

A antecipação do surgimento dos sintomas pode ocorrer na SCA5.  Análises de pacientes mostraram que filhas tiveram sintomas de 10 a 20 anos mais cedo do que suas mães, que também tinham a doença, e estas por sua vez apresentaram sintomas mais cedo que as suas mães, as avós das netas [5].

Nos casos em que o surgimento dos sintomas ocorre na idade adulta a progressão da ataxia é mais lenta [8].

5. HERANÇA

A SCA5 é uma doença com herança autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar uma cópia (alelo) do gene com mutação e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com SCA5 tem uma probabilidade de 50% de herdar uma cópia do gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação, ou seja, a mãe ou o pai biológico).

Nota - "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai).  "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas.

​Figura 1 crédito - A nota acima e a imagem abaixo foram reproduzidas do GARD [2].

Nota: Embora a SCA5 tenha transmissão autossômica dominante, mutações homozigóticas do gene SPTBN2 podem causar um outro tipo de ataxia espinocerebelar com transmissão autossômica recessiva, codificada como SCAR14, que usualmente tem sintomas mais severos e com surgimento (onset) mais cedo, atraso no desenvolvimento e problemas cognitivos. Uma mutação homozigótica ocorre quando a pessoa herda duas cópias do mesmo gene com mutação, uma do pai biológico e outra da mãe. Em contraste, a mutação heterozigótica ocorre quando a pessoa herda apenas um alelo (cópia do gene) com mutação, sendo o outro alelo normal. Consultar [5, 8] para mais informações. 

6. PREVALÊNCIA

A SCA5 é uma ataxia rara, mesmo entre as ataxias com transmissão dominante. A prevalência é desconhecida, mas estima-se que seja de menos que 1 caso em cada 1.000.000 de habitantes [6]. Famílias nos Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Noruega e outros países já foram reportadas com com SCA5.

7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Diagnóstico - O diagnóstico da SCA5 pode ser feito com teste genético molecular (exame de DNA) para detectar rearranjos e mutações pontuais em heterozigose no gene SPTBN2, sendo recomendado sobretudo se já houver alguém na família com diagnóstico fechado (histórico familiar positivo para SCA5). Antes da solicitação de testes genéticos, o neurologista tipicamente faz exames clínicos neurológicos para análise de sintomas, reflexos, anormalidades oculares, avaliação de histórico familiar etc. e é normal que solicite exames de imagem para verificar se há atrofia cerebelar por exemplo (Figura 2),

Nota: Embora o diagnóstico por teste genético possa ser difícil, demorado e caro, ele é importante, pois permite um melhor aconselhamento genético para os familiares (risco de transmissão da mutação para futuras gerações na família), um melhor manejo da doença, que estará bem determinada, e também possibilita a participação do paciente em ensaios clínicos para medicamentos para ataxias específicas.

Figura 2 - NAF (National Ataxia Foundation) webinar "Research and Treatment Development for SCA5" with Dr. Adam Avery [9].

SCA5 fig1.png

8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA ESTA ATAXIA

Ver artigo "Reimagining drugs for rare brain disorder" por Marissa Locke Rottinghaus, Feb. 16, 2023

A fonte [9] lista algumas abordagens terapêuticas possíveis para a SCA5 (ainda em estudos):

  • Edição genética (de variates pagogênicas do gene SPTBN2) por CRISPR/Cas9.

  • Terapias ASO (Antisense Oligonucleotides) para reduzir expressividade da proteína mutante beta-III spectrin.

  • Novos medicamentos para tratar os efeitos (ex. problemas na sinalização do neurotransmissor glutamato)

9. TRATAMENTOS

A ataxia SCA5 ainda não tem cura, mas é possível tratar sintomas visando melhor qualidade de vida e fornecer apoio contínuo ao paciente. É importante que os pacientes com SCA5 sejam acompanhados por um neurologista e uma equipe médica multidisciplinar e especializada, com a inclusão gradual de novos profissionais de saúde na medida em que seja necessário em função dos sintomas (geneticista, neuro oftalmologista, fisioterapeuta neurofuncional, fisioterapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, nutricionista etc.). 

​Seguem algumas recomendações gerais para o manejo de sintomas na SCA5:

  • Fisioterapia neurofuncional, exercícios (sobretudo bicicleta ergométrica) e outras atividades físicas regulares (Yoga, Pilates, hidroginástica etc.) são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).

  • ​Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou (bem mais raramente), cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença. 

  • Fisioterapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.). 

  • Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).

  • Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.

  • Suplementos e vitaminas podem ser recomendados (consultar o médico para avaliar a necessidade - não consumir vitaminas e suplementos sem supervisão médica).

  • Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade. 

  • Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.). 

  • Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.

  • Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.

Nota! Alguns pacientes com ataxias cerebelares diversas relatam benefícios e melhoria de sintomas de ataxia após sessões de neuromodulação ou estimulação cerebelar não invasiva, por exemplo, a estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS), ou estimulação magnética transcraniana (TMS) com fisioterapeutas certificados. Observar que embora já esteja sendo comercializada esta terapia ainda não foi aprovada pela FDA nos Estados Unidos (ou pela ANVISA no Brasil) para tratamento de ataxias (ou seja, trata-se de tratamento experimental e sem garantias).

Veja informações sobre medicamentos para sintomas de ataxias.

Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.

10. REFERÊNCIAS 

Ref #1

Fonte:

NAF (National Ataxia Foundation)
© Copyright National Ataxia Foundation

Idioma:

Inglês

Data:

Revised NAF– 01/2019

Ref #2

Fonte:

GARD - Genetic and Rare Diseases Information Center. 
Copyright © National Center for Advancing Translational Sciences - National Institutes of Health (NIH) ©.

Idioma:

Inglês

Data:

Last Updated: November 2023

Ref #3

Fonte:

NEUROMUSCULAR  DISEASE CENTER   (Alan Pestronk, MD)
Washington University, St. Louis, MO - USA     

Idioma:

Inglês

Data:

Ref #4

Fonte:

Katherine A. Dick, Yoshio Ikeda, John W. Day, Laura P.W. Ranum

ScienceDirect Copyright © 2024 Elsevier B.V.

Idioma:

Inglês

Data:

2012

Ref #5

Fonte:

OMIM® - An Online Catalog of Human Genes and Genetic Disorders.
Copyright © Johns Hopkins University.

Idioma:

Inglês

Data:

Edit History: carol : 04/02/2021

Ref #6

Fonte:

Expert reviewer(s):  Dr Shinsuke FUJIOKA - Dr Yoshio TSUBOI - Dr Zbigniew WSZOLEK

Copyright ® Orphanet - The portal for rare diseases and orphan drugs

Idioma:

Inglês. 

Data:

 Last update: February 2020

Ref #7

Fonte:

Sarah Denha

YouTube - Copyright ® Oakland University

Idioma:

Inglês. 

Data:

Nov 12, 2021

Ref #8

Fonte:

Presented by: Dr. Theresa Zesiewicz 

YouTube - Copyright © National Ataxia Foundation (NAF)

Idioma:

Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.

Data:

March 8th, 2024

Ref #9

Fonte:

Presented by: Dr. Adam Avery 

YouTube - Copyright © National Ataxia Foundation (NAF)

Idioma:

Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.

Data:

March 19th, 2024

Por favor, leia o Disclaimer.  Tradução para o idioma Inglês feita por Inteligência Artificial.

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