ATAXIA:
SCA6 (Ataxia espinocerebelar tipo 6)
GENES RELACIONADOS:
CACNA1A
TIPO DE MUTAÇÃO:
CACNA1A -> Mutação por expansão CAG
FONTE:
NAF SCA6 Fact Sheet e outras fontes indicadas
LOCALIZAÇÃO:
Gene localizado no cromossoma 19 (19p13.2)
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
15/07/2023 por Márcio Galvão
Ficha SCA6
1. SOBRE A SCA6
A ataxia espinocerebelar tipo 6 (Spinocerebellar Ataxia type 6 - SCA6) é um dos tipos de ataxias dentro de um grupo de doenças hereditárias do sistema nervoso central.
A SCA6 é um dos 50 tipos de ataxia espinocerebelares cujos genes já foram mapeados. É causada por mutações no gene CACNA1A, localizado no cromossoma 19. O gene CACNA1A codifica duas proteínas. A Proteína 1 controla abertura de canal de cálcio ativado por voltagem (tem a ver com a comunicação entre os neurônios), e está presente nas células de Purkinje no cerebelo. A Proteína 2 regula a expressividade de outros genes no núcleo das células de Purkinje e de outras células (atua como fator de transcrição). A mutação genética no gene CACNA1A e o número excessivo de repetições CAG dela resultante faz com que estas duas proteínas sejam mal formadas ao serem codificadas, e assim se tornem tóxicas para os neurônios, causando principalmente a degeneração e morte das células de Purkinje e de células granulares do cerebelo. A perda neuronal causa progressiva atrofia cerebelar, o que explica os sintomas da ataxia.
Notas:
1. A SCA6 é um pouco diferente de outras ataxias como a SCA3 pois ataca apenas o cerebelo, sem comprometer outras áreas do cérebro. Ou seja, é considerada uma "ataxia cerebelar pura".
2. O gene CACNA1A que causa a SCA6 também está envolvido em duas doenças (mesmo gene, com mutações diferentes). Uma é enxaqueca familiar hemiplégica e a outra é a ataxia episódica tipo 2 (EA2).
Fonte: Webinar NAF "All About SCA6" em 10-04-2023, Dr. Anoopum Gupta.
2. SINTOMAS TÍPICOS
Por ser uma ataxia tipicamente cerebelar, os sintomas têm relação com as funções cerebelares que podem ser comprometidas progressivamente:
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Dificuldades ao andar (equilíbrio)
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Tonturas (ex.parece que o mundo está rodando).
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Alterações na voz (disartria)
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Problemas de visão (visão dúpla = diplopia, nistagmo horizontal ou vertical)
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Problemas de coordenação nos braços e mãos (pode deixar cair as coisas etc.).
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Tremores de intenção (ocorre em movimentos intencionais em direção a um alvo, como pegar um copo por exemplo).
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Problemas na deglutição (disfagia) de alimentos sólidos e líquidos, nos estágios mais avançados.
Notas
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Em cerca de 10% dos casos, a disartria (falta de clareza na voz) é o primeiro sintoma que se manifesta na SCA6.
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A visão dupla (diplopia) ou outros distúrbios visuais ocorrem em cerca de 50% das pessoas com SCA6.
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Pacientes com SCA6 não reportam dores neuropáticas, síndrome das pernas inquietas (restless legs), rigidez muscular, enxaquecas ou atrofias musculares.
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A severidade dos sintomas aumenta durante a gravidez, mas sem efeitos reportados na viabilidade do feto.
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Assim como a idade de aparecimento dos sintomas (onset), a severidade dos sintomas pode variar consideravelmente, mesmo dentro de uma mesma família.
Fonte: GeneReviews -> Spinocerebellar Ataxia Type 6
Patologia e aspectos clínicos
Para uma relação mais técnica dos sintomas e aspectos clínicos usuais da SCA6 e informações de patologia (quais partes do sistema nervoso central são geralmente afetadas, e quais danos ou disfunções são verificados em nível celular), ver seções Clinical Features e Pathology respectivamente em Neuromuscular -> SCA6
3. A IDADE DOS SINTOMAS
Em geral, os sintomas da SCA6 se manifestam (onset) entre os 43 e 52 anos de idade, mas a idade de aparecimento dos sintomas (onset) pode variar amplamente na SCA6, mesmo entre pessoas afetadas de uma mesma família. Há casos documentados de SCA6 com idades de surgimento de sintomas variando da adolescência até os 71 anos. A idade de aparecimento dos sintomas tem relação com o número de repetições CAG no gene CACNA1A. A progressão da SCA6 é geralmente lenta, e a doença não costuma afetar a expectativa de vida.
4. PODE OCORRER ANTECIPAÇÃO?
Variações na quantidade de repetições CAG (expansão) no gene CACNA1A não são normalmente observadas na transmissão de pais para filhos (transmissão vertical). Portanto, a antecipação genética não foi até agora observada na SCA6.
5. HERANÇA
A SCA6 é uma doença autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar o gene e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com SCA6 tem uma probabilidade de 50% de herdar o gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação).
Observar que "herdar o gene alterado e ser portador da mutação genética" não é a mesma coisa que "vai desenvolver a doença". É possível que uma pessoa herde uma variante patogênica de um gene e não desenvolva a doença (não apresente sintomas), pois pode herdar uma mutação que tenha baixa penetrância, mas em geral, acima de uma certa faixa que é considerada patológica (alta penetrância), os filhos que herdam um gene dominante vão desenvolver a doença,
Faixas de expansão CAG para a SCA6
Cada pessoa tem duas cópias do gene CACNA1A , uma herdada da mãe, e outra do pai. Um alelo pode ter por exemplo 12 repetições CAG, o que é normal e não provoca doença, enquanto o outro alelo (a outra cópia do mesmo gene) pode ter por exemplo, 26 repetições - e neste caso a pessoa vai desenvolver a doença mais cedo ou mais tarde.
Os limites de repetições CAG para dignóstico genético da SCA6 são indicados abaixo:
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Faixa Normal (não desenvolve a doença): De 4 até 18 ou 20 repetições CAG
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Faixa Patológica (a doença se manifesta): De 20 até 33 repetições CAG
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Faixa Intermediária: No caso de 19 repetições CAG, a ocorrência ou não da SCA6 ainda não é clara.
Fonte: Neuromuscular -> SCA6
Nota: "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai). "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a cor dos olhos), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). "Mutação" é um termo antigo que ainda é utilizado para indicar uma "variante patogênica" de um gene (isto é, uma variação que pode causar o aparecimento de doenças genéticas.

6. PREVALÊNCIA
A prevalência da SCA6 varia por área geográfica, provavelmente em função do "efeito do fundador". Algumas estimativas de prevalência da SCA6 são: 1%-2% na Espanha e na França, 3% na China, 12% nos Estados Unidos, 13% na Alemanha e 31% no Japão.
Fonte: Spinocerebellar Ataxia Type 6
As seguintes informações sobre a prevalência da SCA6 também estão disponíveis:
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Frequência: De 10% a 30% das ataxias espinocerebelares dominantes
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Comum em: Alemanha, Taiwan, Austrália, Estados Unidos, Japão, Holanda
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Incomum em: Espanha, Itália, Índia, México, Finlândia
Fonte: Neuromuscular -> SCA6
7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
A ataxia SCA6 é uma das "doenças poliglutamínicas" (PolyQ). Ocorre quando o alelo (cópia) do gene CACNA1A herdado de um dos pais contém uma mutação com uma quantidade anormal de repetições de trinucleotídios CAG (Citosina, Adenina, Guanina), que codificam o aminoácido glutamina (Q) na proteína criada pelo gene. As proteínas mal formadas contendo estas repetições exageradas de glutaminas (poliglutaminas) tendem a se acumular nos neurônios, formando agregados.
A natureza tem mecanismos de proteção para fazer uma "faxina" nas células e quebrar proteínas "problemáticas" ou "desnecessárias" que sejam encontradas. Porém, por algum motivo, estes mecanismos não funcionam bem com estes agregados de poliglutamina, que são insolúveis pelos métodos naturais, e assim as proteínas defeituosas se tornam tóxicas e podem causar disfunções em processos celulares vitais (no caso da SCA6, por causa da Proteína 1 mal formada, pode haver desregulagem dos mecanismos de abertura dos canais de cálcio), causando degeneração e morte dos neurônios do cerebelo (em especial, das células de Purkinje), e em função desta perda neuronal surgem os sintomas da ataxia.
8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA ESTA ATAXIAS
9. TRATAMENTOS
A ataxia SCA6 ainda não tem cura, mas é possível tratar seus sintomas.
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Fisioterapia neurofuncional, exercícios (sobretudo bicicleta ergométrica) e outras atividades físicas regulares (Yoga, Pilates, hidroginástica etc.) são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).
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Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença.
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Fisioterapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.).
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Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).
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Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.
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Suplementos e vitaminas podem ser recomendados (consultar o médico para avaliar a necessidade - não consumir vitaminas e suplementos sem supervisão médica).
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Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade.
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Para a diplopia (visão dupla) causada por ataxia o uso de óculos com lentes de prisma pode ajudar. No caso de Nistagmo, há medicamentos que podem ajudar. Consultar o neurooftalmologista no caso de aparecimento destes sintomas.
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No caso de tremores, consultar o neurologista para avaliar o medicamento mais adequado.
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No caso de tonturas e vertigens, consultar o neurologista para avaliar a melhor forma de manejar tais sintomas.
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Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.).
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Para a disfagia, caso ocorra em estágios mais avançados da doença, também se recomenda consulta ao fonoaudiologista - há exercícios que podem ajudar na deglutição, reduzindo o risco de engasgos que possam causar pneumonia aspiratória.
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Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.
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Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.
Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente.
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.
Na imagem de ressonância abaixo, C mostra um indivíduo sem SCA6, e 10.5, 17.5 e 22 mostram indivíduos com SCA6. É possível observar a atrofia cerebelar.
Fonte: Webinar NAF "All About SCA6" em 10-04-2023, Dr. Anoopum Gupta.

10. REFERÊNCIAS (para saber mais sobre SCA6...)
Artigos
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Autor/site:
Idioma:
Data:
GARD - Genetic and Rare Diseases Information Center
Inglês
Last Updated: February 2023
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Data:
Hannah L Casey, BS and Christopher M Gomez, MD, PhD.
Inglês
Last Update: November 21, 2019
Vídeos
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Autor/site:
NAF (National Ataxia Foundation) - Dr. Allana Watt
Idioma:
Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.
Data:
April 26, 2023
Vídeo:
Autor/site:
NAF (National Ataxia Foundation) - Dr. Anoopum Gupta
Idioma:
Inglês. É possível habilitar legendas e configurar tradução automática das legendas para português.
Data:
April 10, 2023