Entrevista com Rich Horgan
Fundador da Cure Rare Disease (CRD)

Sobre Rich Horgan e a Cure Rare Disease (CRD)
Richard (Rich) Horgan é o fundador, presidente e CEO da Cure Rare Disease (CRD). Ele se formou em Cornell (BS, summa cum laude) e tem MBA pela Harvard Business School, onde recebeu a Blavatnik Fellowship for Life Science Entrepreneurship. A missão da CRD é desenvolver e financiar terapias genéticas para doenças ultrarraras. Nesse contexto, a CRD está desenvolvendo uma terapia genética ASO (Oligonucleotídeo Antisense) cujo código é CRD-002 para tratar a ataxia espinocerebelar tipo 3 (SCA3).
O sr. Horgan foi extremamente gentil em conceder uma entrevista exclusiva para Catiana Librelato, volutária da ABAHE e colaboradora do portal ataxia.info. A entrevista foi concedida em Inglês, e será apresentada abaixo na íntegra na versão orinal e também traduzida para o Português. Agradecemos ao sr. Horgan por sua disponibiidade em compartilhar informações sobre um projeto de enorme importância para os pacientes com ataxia de modo geral, e com diagnóstico de SCA3 em particular,
Entrevista com o sr. Rick Horgan, CEO da Cure Rare Disease
Entrevista concedida em agosto de 2025 para Catiana Librelato.
Publicada com autorização.
English version
Title: SCA3 Research in Motion: Interview with Rich Horgan, Founder of Cure Rare Disease
Spinocerebellar Ataxia Type 3 (SCA3), also known as Machado-Joseph Disease, is a rare and progressive neurodegenerative condition that affects balance, coordination, and overall quality of life. Amid the challenges faced by patients and families, the organization Cure Rare Disease (CRD) has stood out for developing innovative therapies for ultra-rare diseases — including SCA3. We spoke with Rich Horgan, founder and CEO of CRD, to learn more about the progress of their research and what the future holds.
1. What motivated Cure Rare Disease to focus on SCA3?
The motivation behind starting a SCA3 drug development program was a family reaching out to us after our appearance on NBC’s The Today Show. Multiple generations of the family are impacted by this disease. The Cure Rare Disease model is unique – it requires substantial fundraising involvement of the patient organization or family members to advance a program, given the limited funding opportunities for rare disease treatments. Drug development is a long process, and it requires the patients and patient organizations to have patience as a potential treatment moves through various stages of R&D. That said, SCA3 is a disease that can be targeted with an antisense oligonucleotide (ASO) and that is what we are doing.
2. You are developing a new therapy called CRD-002. How does it work?
CRD-002 targets the ATXN3 gene to skip the mutated exon and result in truncated yet functional ATXN3 protein.
3. Have there been any tests so far? What have you observed?
Extensive testing has been conducted with CRD-002 in the MJD84.2 mouse model and patient cell lines for both efficacy and toxicology. Data thus far supports advancing CRD-002 into late preclinical development and human clinical trials. We have shown that CRD-002 can successfully skip the mutated exon and result in truncated yet functional ATXN3 protein. Moreover, in the disease mouse model, MJD84.2, it shows reversal of the associated phenotype measured by the beam walk test. Lastly, pharmacologically active doses do not cause severe side effects, meaning that the dose of the drug that showed benefits does not have serious side effects. While mice studies do not perfectly translate to what we ultimately see in humans, it gives us cause to believe that CRD-002 may have a very meaningful impact in a clinical setting with limited side effects. Most side effects seen in mice are transient – meaning they go away in a few days and are related to the process of administering the drug via lumbar puncture.
4. What stage is the therapy currently in, and what are the next steps?
The therapy is in late preclinical development. This involves scaling up production of the drug and conducting toxicology studies in rats and mini-pigs to better understand the toxicology profile associated with continued dosing of the drug. This is something that the FDA mandates and is important in the development process. We anticipate these studies will be complete by early 2026. From there, we’ll file the IND to begin human clinical trials.
5. CRD works with universities and labs. How do these partnerships help?
Drug development is a team sport. No one person or organization can take a drug from bench to bedside. Each collaborator in our drug development effort plays a critical role. Our academic partners are generally responsible for developing the drug itself and conducting preliminary testing. Cure Rare Disease leads preclinical development and activities moving forward including toxicology studies, regulatory engagement and clinical trial activities.
6. How can families follow or participate in the research?
Families can sign up for our newsletter at cureraredisease.org to follow along. Sadly, the biggest hurdle is financial resources. Drug development costs millions of dollars. With a price tag so high, may impacted families feel there is nothing they can do. But even small donations add up. As a nonprofit organization, we rely on the support of donors to enable this work. For interested families, we encourage them to make a donation to advance the project.
7. What message would you like to leave for families affected by SCA3?
As someone whose family member was impacted by a rare disease, I understand the urgency that patients and patient families feel to get therapeutics to help slow or stop the disease. The Cure Rare Disease team is comprised of people who are passionate about improving the lives of patients – many of us were patients or patient caregivers. This is not an enterprise whose focus is on profit maximization. While we need to ensure we are sustainable, we do not need to sell multi million dollar drugs.
Entrevista concedida em agosto de 2025 para Catiana Librelato.
Publicada com autorização.
Versão em Português
Título: Pesquisa em Andamento sobre SCA3: Entrevista com Rich Horgan, Fundador da Cure Rare Disease
A Ataxia Espinocerebelar Tipo 3 (SCA3), também conhecida como Doença de Machado-Joseph, é uma condição neurodegenerativa rara e progressiva que afeta o equilíbrio, a coordenação e a qualidade de vida como um todo. Em meio aos desafios enfrentados por pacientes e famílias, a organização Cure Rare Disease (CRD) tem se destacado por desenvolver terapias inovadoras para doenças ultrarraras — incluindo a SCA3. Conversamos com Rich Horgan, fundador e CEO da CRD, para saber mais sobre o andamento de suas pesquisas e o que o futuro reserva.
1. O que motivou a Cure Rare Disease a focar na SCA3?
A motivação para iniciar um programa de desenvolvimento de medicamento para a SCA3 surgiu quando uma família entrou em contato conosco após nossa participação no programa The Today Show, da NBC. Múltiplas gerações dessa família são afetadas por essa doença. O modelo da Cure Rare Disease é único — ele exige um envolvimento substancial, na captação de recursos, por parte da organização de pacientes ou de membros da família para que o programa avance, considerando as oportunidades limitadas de financiamento para tratamentos de doenças raras. O desenvolvimento de medicamentos é um processo longo e exige que pacientes e organizações de pacientes tenham paciência, à medida que um tratamento potencial avança por diferentes estágios de pesquisa e desenvolvimento. Dito isso, a SCA3 é uma doença que pode ser alvo de um oligonucleotídeo antisense (ASO), e é exatamente isso que estamos fazendo.
2. Vocês estão desenvolvendo uma nova terapia chamada CRD-002. Como ela funciona?
O CRD-002 tem como alvo o gene ATXN3 para “pular” o éxon mutado e, assim, gerar uma proteína ATXN3 truncada, porém funcional.
3. Já foram realizados testes até agora? O que vocês observaram?
Foram realizados testes extensivos com o CRD-002 no modelo murino (camundongos) MJD84.2 e em linhagens celulares de pacientes, tanto para avaliar a eficácia quanto a toxicologia. Os dados obtidos até o momento sustentam o avanço do CRD-002 para a fase final de desenvolvimento pré-clínico e para ensaios clínicos em humanos. Demonstramos que o CRD-002 consegue efetivamente “pular” o éxon mutado e gerar uma proteína ATXN3 truncada, porém funcional. Além disso, no modelo murino da doença, MJD84.2, observou-se reversão do fenótipo associado, medida pelo teste de caminhada na trave (beam walk test). Por fim, doses farmacologicamente ativas não causaram efeitos colaterais graves, ou seja, a dose do medicamento que apresentou benefícios não apresentou efeitos adversos importantes. Embora os estudos em camundongos não se traduzam perfeitamente no que veremos em humanos, eles nos dão motivos para acreditar que o CRD-002 poderá ter um impacto muito significativo no contexto clínico, com efeitos colaterais limitados. A maioria dos efeitos colaterais observados nos camundongos é transitória — ou seja, desaparece em poucos dias — e está relacionada ao próprio procedimento de administração do medicamento por punção lombar.
4. Em que estágio a terapia se encontra atualmente e quais são os próximos passos?
A terapia está na fase final do desenvolvimento pré-clínico. Isso envolve ampliar a produção do medicamento e realizar estudos toxicológicos em ratos e mini-porcos, para compreender melhor o perfil toxicológico associado ao uso contínuo do fármaco. Trata-se de uma exigência da FDA e de uma etapa importante no processo de desenvolvimento. Prevemos que esses estudos sejam concluídos no início de 2026. A partir daí, entraremos com o pedido de IND (Investigational New Drug) para dar início aos ensaios clínicos em humanos.
5. A CRD trabalha com universidades e laboratórios. Como essas parcerias ajudam?
O desenvolvimento de medicamentos é um trabalho em equipe. Nenhuma pessoa ou organização, sozinha, consegue levar um medicamento da bancada ao leito do paciente. Cada colaborador em nosso esforço de desenvolvimento desempenha um papel fundamental. Nossos parceiros acadêmicos são, em geral, responsáveis por desenvolver o próprio medicamento e realizar os testes preliminares. A Cure Rare Disease lidera o desenvolvimento pré-clínico e as etapas seguintes, incluindo estudos toxicológicos, interações com órgãos regulatórios e atividades relacionadas aos ensaios clínicos.
6. Como as famílias podem acompanhar ou participar da pesquisa?
As famílias podem se inscrever em nosso boletim informativo no site cureraredisease.org para acompanhar o andamento. Infelizmente, o maior obstáculo são os recursos financeiros. O desenvolvimento de medicamentos custa milhões de dólares. Com um valor tão alto, muitas famílias afetadas sentem que não há nada que possam fazer. Mas mesmo pequenas doações somam. Como organização sem fins lucrativos, dependemos do apoio de doadores para tornar esse trabalho possível. Para as famílias interessadas, incentivamos que façam uma doação para ajudar a impulsionar o projeto.
7. Que mensagem você gostaria de deixar para as famílias afetadas pela SCA3?
Como alguém que teve um familiar afetado por uma doença rara, eu entendo a urgência que pacientes e famílias sentem em obter terapias que ajudem a desacelerar ou interromper a doença. A equipe da Cure Rare Disease é formada por pessoas apaixonadas por melhorar a vida dos pacientes — muitos de nós já fomos pacientes ou cuidadores de pacientes.
Este não é um empreendimento cujo foco seja a maximização do lucro. Embora precisemos garantir nossa sustentabilidade, não temos a necessidade de vender medicamentos que custem milhões de dólares.