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Ataxia:

SCA17 (Ataxia Espinocerebelar Tipo 17)

GENES RELACIONADOS:

TBP

TIPO DE MUTAÇÃO:

TBP -> Expansão intercalada CAG/CAA

LOCALIZAÇÃO:

Cromossoma 6 (6q27)

HERANÇA:

Autossômica Dominante

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:

01/05/2025 por Márcio Galvão

Conteúdo gerado com apoio de IA Generativa, revisado pelo autor.

Ficha SCA17

1. SOBRE A SCA10

A Ataxia Espinocerebelar Tipo 17 (SCA17) é uma forma específica de ataxia hereditária dentro do grupo das ataxias espinocerebelares, um conjunto de doenças neurodegenerativas que afetam preferencialmente o cerebelo e suas conexões.

Na SCA17, alterações genéticas resultam na degeneração progressiva do cerebelo — estrutura crucial para a coordenação motora fina e o equilíbrio, produzindo sintomas de ataxia. .

A SCA17 é causada por expansão da sequência repetitiva CAG/CAA no gene TBP (TATA-box binding protein), que (resumidamente) codifica um fator geral de transcrição do RNA. A patogênese exata ainda não é totalmente compreendida, mas acredita-se que a expansão anormal de poliglutaminas CAG/CAA no GENE TBP confere um efeito tóxico de ganho de função, afetando a regulação transcricional (RNA) e produzindo agregados proteicos tóxicos. Estes efeitos causam disfunção neuronal progressiva (especialmente de neurônios de Purkinje cerebelares)​ [1]

A Figura 1 mostra de forma simplificada a patogênese da SCA17 (imagem gerada pelo autor com apoio de IA).

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2. SINTOMAS TÍPICOS

Algumas pessoas podem desenvolver mais sintomas do que outras, e quando surgem, os sintomas podem ser leves, moderados ou severos. A relação seguinte é apenas uma referência.  

Sintomas da SCA17 [1, 2, 3]

  • Ataxia cerebelar - dificuldade de coordenação motora (marcha instável, ataxia de tronco e de membros, falta de equilíbrio) e disartria (fala arrastada).

  • Deficiência cognitiva/demência – perda de memória recente e declínio intelectual progressivo, com sintomas demenciais em fases avançadas.

  • Sintomas psiquiátricos – alterações de humor (depressão, ansiedade, irritabilidade) e mudanças comportamentais.

  • Movimentos involuntários – coreia (movimentos coreiformes involuntários) e distonia (contrações musculares anormais).

  • Características parkinsonianas – rigidez muscular, bradicinesia e instabilidade postural (sinais extrapiramidais) frequentemente coexistem.

  • Sinais piramidais – espasticidade e hiperreflexia (caminho corticospinal) podem estar presentes.

  • Outras manifestações – alguns pacientes apresentam convulsões (epilepsia e manifestações oculares discretas.

 

Nota! A SCA17 também foi chamada de “Doença Tipo Huntington 4” (HDL4) devido ao quadro clínico semelhante ao mal de Huntington (coreia progressiva com demência)​.

Exames de ressonância magnética podem indicar atrofia cerebelar pela morte de neurônios (células de Purkinje). Esta seria a principal patologia da SCA17, mas além do cerebelo outras regiões como o córtex cerebral e o tronco encefálico também podem sofrer degeneração [3].

3. IDADE DOS SINTOMAS

A SCA17 tem início tipicamente na vida adulta, com idade média de início por volta da quarta década de vida. Estudos relatam uma ampla faixa de início clínico, variando entre 3 e 55 anos, mas a maioria dos pacientes manifesta sintomas entre os 30 e 50 anos [1]

4. ANTECIPAÇÃO

Ao contrário de outras ataxias por expansão CAG, a antecipação genética (início cada vez mais precoce em gerações sucessivas) é incomum em SCA17​. Isso ocorre porque as repetições CAG no TBP são frequentemente interrompidas por códons CAA, o que estabiliza a sequência durante a transmissão germinativa e limita expansões adicionais​.

 

Em famílias raras onde a interrupção CAA está ausente (existe apenas repetição CAG), já foram observados eventos de instabilidade e antecipação​, mas de modo geral o fenômeno é pouco frequente [1].

5. HERANÇA

A SCA17 é uma doença com herança autossômica dominante. Isto significa que indivíduos de ambos os sexos têm a mesma probabilidade de herdar uma cópia (alelo) do gene com mutação e se tornarem portadores da mutação. Um filho de uma pessoa com SCA17 tem uma probabilidade de 50% de herdar uma cópia do gene alterado (considerando que apenas um dos pais é portador da mutação, ou seja, a mãe ou o pai biológico).

​Observe que é possível que uma pessoa herde uma variante de um gene e não desenvolva a doença (não apresente sintomas), pois pode herdar uma mutação pequena em uma faixa intermediária que tenha baixa penetrância, Porém, quando a mutação herdada está em uma faixa considerada patológica (alta penetrância), a doença vai se manifestar em algum momento da vida.  

Faixas de expansão para a SCA17

Os limites de repetições CAG/CAA no gene TBP para dignóstico genético da SCA17 são indicados abaixo de forma simplificada [1]

  • Faixa Normal (não desenvolve a doença): De 20 até 40 repetições CAG/CAA.

  • Faixa Intermediária (podem ou não causar sintomas): 41–48 repetições CAG/CAA.

  • Faixas com Penetrância Completa (100% dos portadores desenvolvem sintomas): ≥ 49 repetições contíguas.

Notas:

  • Pacientes com 41 até 44 repetições têm risco variável (alguns permanecem assintomáticos)​.

  • Observou-se que variantes no gene STUB1 podem atuar conjuntamente com expansões curtas do gene TBP, explicando casos de penetrância reduzida – esse mecanismo que envolve os dois genes (TBP e STUB1) foi identificado na literatura como SCA17-DI​​ (digênico) [1]. Ver 7. Informações Adicionais

Nota: "Autossômica" significa que o gene está localizado em qualquer cromossoma com exceção dos cromossomas sexuais X e Y. Os genes, assim como os cromossomas, normalmente existem em pares (temos um par de cada gene, uma cópia do gene é herdada da mãe, outra do pai).  "Dominante" significa que apenas uma cópia do gene responsável (um alelo) herdada do pai ou da mãe é suficiente para transmitir uma característica física (como a presença de covinhas nas bochechas), ou uma doença genética (como as ataxia hereditárias) de uma geração (pais) para a seguinte (filhos). 

Figura 2 - Fonte: MedlinePlus, U.S. National Library of Medicine.

6. PREVALÊNCIA

A SCA17 é uma doença extremamente rara. Menos de 100 famílias foram descritas na literatura mundial​. Estima-se que a prevalência global seja bem inferior a 1 caso por 100.000 habitantes. A SCA17 representa cerca de 0,3% de todos os casos de ataxia espinocerebelar autossômica dominante​ [1]
 

Nota! É provável que alguns casos sejam subdiagnosticados devido à sobreposição clínica com outras doenças (por exemplo, o fenótipo semelhante à doença de Huntington).

7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Homozigoze na SCA17: Além da forma clássica (dominante), casos extremamente raros de homozigotos da SCA17 (aqueles em que uma pessoa herda duas cópias alteradas do mesmo gene — uma do pai e uma da mãe) foram relatados. Um paciente com 47 repetições homozigotas no gene TBP teve início tardio dos sintomas, porém curso rápido e severo. A sobrevida embrionária não foi afetada neste caso, sugerindo que a função básica do TBP não é totalmente perdida mesmo com a mutação em homozigose [4]

Forma digenica (SCA17-DI): Individuos com mutações no gene TBP e no gene STUB1 (co-influência digenica) apresentam fenótipo de ataxia semelhante à SCA17, mesmo com expansões pequenas no gene TBP​. Esse mecanismo recém-descrito pode explicar variabilidade clínica em famílias afetadas.

Overlaps clínicos: Devido às manifestações psiquiátricas e coreia, alguns casos de SCA17 podem ser confundidos com doenças de Huntington. Por isso a SCA17 também é conhecida como “Huntington disease–like 4” (HDL4) em descrições mais antigas​ [1]

Diagnóstico da SCA17

O diagnóstico da SCA17 exige testes genéticos específicos que quantifiquem o número de repetições CAG/CAA no gene TBP. Os principais testes utilizados são:

  • PCR com análise de fragmentos - Quantifica o número total de repetições CAG/CAA no gene TBP. Este teste não distingue entre repetições puras (só CAG) e mistas (CAG/CAA), mas isso não é essencial para o diagnóstico clínico.

  • Painel de ataxias com repetição por PCR - Muitos laboratórios oferecem painéis genéticos direcionados para ataxias espinocerebelares, como SCA1, SCA2, SCA3, SCA6, SCA7, SCA17, DRPLA e outras. Nestes painéis, cada gene com expansão é testado por PCR individual com primers específicos.

Testes genéticos pré-natais - Uma vez que uma mutação no gene TBP tenha sido identificada em um membro da família por meio de testes genéticos moleculares, há uma probabilidade de 50% de transmissão do alelo mutante desta pessoa para seus filhos. Em função disso, pode-se considerar a possibilidade de realizar testes pré-natais na gravidez para verificar se o embrião está ou não com a mutação que pode causar a doença. Este é um tema eticamente delicado e que envolve decisões pessoais importantes. As pessoas em risco podem discutir com seus parceiros e familiares e buscar aconselhamento genético para tomar tais decisões de forma melhor informada. 

8. TERAPIAS E MEDICAMENTOS EM TESTES PARA A SCA17

9. TRATAMENTOS

A ataxia SCA17 ainda não tem cura, mas é possível tratar sintomas visando melhor qualidade de vida e fornecer apoio contínuo ao paciente. É importante que os pacientes com SCA17 sejam acompanhados por um neurologista e uma equipe médica multidisciplinar e especializada, com a inclusão gradual de novos profissionais de saúde na medida em que seja necessário em função dos sintomas (geneticista, neuro oftalmologista, fisioterapeuta neurofuncional, fisioterapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, nutricionista, psiquiatra etc.).

De modo geral, para os pacientes com SCA17 é recomendável:

  • Fisioterapia neurofuncional e outras atividades físicas regulares são recomendados (dentro das possibilidades de cada um).

  • ​Para reduzir o risco de quedas em função das dificuldades de equilíbrio ao caminhar pode-se adotar bengalas, andadores ou cadeira de rodas, dependendo do estágio da doença. 

  • Terapia ocupacional e algumas adaptações em casa e nos hábitos diários podem ajudar (ex. instalar barras de apoio nos corredores e banheiros, cadeira para banho, luzes para iluminação noturna, reposicionar os móveis para facilitar a mobilidade, remover tapetes para não tropeçar, utilizar copos com tampa e canudo, calçados com sola antiderrapante e fáceis de calçar etc.). 

  • Descansar sempre que necessário, e é importante ter um sono noturno de boa qualidade. No caso de dificuldades para dormir, consultar o médico, pois há medicamentos que podem ajudar (por exemplo, óleo de Canabidiol).

  • Manter uma alimentação saudável e com boa hidratação.

  • Convém controlar o peso para evitar dificuldades ainda maiores na mobilidade. 

  • No caso de Nistagmo, há medicamentos que podem ajudar. Consultar o neurooftalmologista no caso de aparecimento deste sintoma.

  • Para a disartria, se tal sintoma se manifestar, recomenda-se terapia especializada de fala (fonoaudiologia). Dependendo do estágio pode-se avaliar o uso de dispositivos de assistência para a comunicação (disponíveis para smartphone, computador, iPad etc.). 

  • Para a disfagia, caso ocorra em estágios mais avançados da doença, também se recomenda consulta ao fonoaudiologista - há exercícios que podem ajudar na deglutição, reduzindo o risco de engasgos que possam causar pneumonia aspiratória. Também é recomendado aconselhamento nutricional (nutricionista).

  • Evitar (tanto quanto possível) o estresse, que em geral piora os sintomas da ataxia.

  • Se necessário, há medicações para o manejo da ansiedade e da depressão. Procurar o médico para avaliar as alternativas mais adequadas.

Nota! Alguns pacientes com ataxias cerebelares diversas relatam benefícios e melhoria de sintomas de ataxia após sessões de neuromodulação ou estimulação cerebelar não invasiva, por exemplo, a estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS), ou estimulação magnética transcraniana (TMS) com fisioterapeutas certificados. Observar que embora já esteja sendo comercializada esta terapia ainda não foi aprovada pela FDA nos Estados Unidos (ou pela ANVISA no Brasil) para tratamento de ataxias (ou seja, trata-se de tratamento experimental e sem garantias).

Veja informações sobre medicamentos para sintomas.

Veja informações sobre tratamentos e cuidados para os pacientes.
Veja informações para quem tem diagnóstico recente
Veja informações sobre Grupos de Suporte para pacientes e cuidadores.

10. REFERÊNCIAS 

As referências abaixo englobam fontes acadêmicas e de organizações especializadas que embasaram as informações desta ficha técnica, incluindo artigos revisados por pares, repositórios genéticos – OMIM, resumos de literatura – GeneReviews, e materiais informativos de fundações de ataxia. Para mais informações, consulte a lista de Referências do ataxia.info

Ref #1

Fonte:

Yasuko Toyoshima et al

© Copyright GeneReviews

Idioma:

Inglês

Data:

Revised July 28, 2022

Ref #2

Fonte:

Troels Tolstrup Nielsen et al

Copyright ® PMC - PubMed Central - PMCID: PMC3475097  PMID: 22889412

Idioma:

Inglês

Data:

Aug, 2012

Ref #3

Fonte:

Written by Dr. Sriram Jayabal Edited by Dr. Ray Truant

Copyright ® National Ataxia Foundation

Idioma:

Inglês

Data:

2020

Ref #4

Fonte:

C H Zühlke et al

Copyright ® Nature  - European Journal of Human Genetics 

Idioma:

Inglês

Data:

31 July 2003

Ref #5

Fonte:

NEUROMUSCULAR  DISEASE CENTER   (Alan Pestronk, MD)
Washington University, St. Louis, MO - USA     

Idioma:

Inglês

Data:

Ref #6

Fonte:

Qiong Liu et al

Copyright ® PMC - PubMed Central - PMID: 31317427 PMCID: PMC6985407  

Idioma:

Inglês

Data:

Last Update: Oct 2019

Ref #7

Fonte:

OMIM® - An Online Catalog of Human Genes and Genetic Disorders.
Copyright © Johns Hopkins University.

Idioma:

Inglês

Data:

Edit History: alopez : 06/09/2022

Por favor, leia o Disclaimer.  

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